sábado, 20 de maio de 2023

Programa de Admissão

 

                        

       Ainda tenho guardado, e muito bem guardado, na minha estante o livro “Programa de Admissão”, que era a fonte para o exame que o aluno se submetia para passar do ensino primário ao ginásio acadêmico.

            É verdade. Praticamente era um pequeno vestibular.

            Tal exame foi instituído por decreto em 1931, que perdurou oficialmente até 1971. Era bastante temido e provocava muita instabilidade e nervosismo, tanto para nós (alunos), como também para os nossos pais.

            Acho que eu tinha entre 12 a 13 anos quando estudei para esse exame, durante um ano, no Colégio Monsenhor Constantino Vieira, sob a direção de Padre Vicente (conhecido apenas assim, sem sobrenome), reverendo sisudo, totalmente careca, abria a boca sem mostrar os dentes. Com sua batina preta surrada, quase arrastando pelo chão, baforando, de vez em quando, seu charuto cubano (legítimo) ao velho estilo do cineasta Alfredo Hitchcock.

 Era absurdamente brabo. Um tsunami de ignorância. Pense no medo que todos nós tínhamos de sua presença. Como não bastasse toda obrigação de praxe dos estudos, tínhamos ainda que ir para missa, fazer penitência, confessionário, hóstia e mais: buscava ele, incansavelmente, nos transformar em verdadeiros santos do que um profissional bem-sucedido de amanhã.

            Voltando ao assunto. O livro abrangia às disciplinas de português, matemática, geografia e história do Brasil. Ministrada por professores especializados nas referidas matérias.

            Como já disse, o exame de admissão constituiu por décadas a linha divisória entre o ensino primário e a escola secundária, um novo espaço de luta para o estudante. Quando passei neste exame e ingressei no tão sonhado ensino ginasial, comecei a captar três regras da vida: sonhar, acreditar e realizar. Como alguém me sussurrasse: aqui está a base para arrumar e cimentar o seu futuro, como cidadão e como profissional. Não foi fácil, contudo.

            E nada de esperar que o sonho se realize por mágica. Pois mágica é ilusão. E ilusão não tira ninguém do lugar onde está. Ilusão é combustível de perdedores. Como bem ressalva o escritor e palestrante Roberto Shinyashiki.

            É preciso dizer: claro, àqueles que se destacavam como bons alunos durante o primário, como costumamos dizer no linguajar popular, tiravam de letra no exame de admissão.

            Pra fechar, essas lembranças cintilam, hoje, num momento de carência de nossa educação (ensino).

 

 

                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA

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