Ainda tenho guardado, e muito bem
guardado, na minha estante o livro “Programa de Admissão”, que era a fonte para
o exame que o aluno se submetia para passar do ensino primário ao ginásio acadêmico.
É verdade. Praticamente era um
pequeno vestibular.
Tal exame foi instituído por decreto
em 1931, que perdurou oficialmente até 1971. Era bastante temido e provocava
muita instabilidade e nervosismo, tanto para nós (alunos), como também para os
nossos pais.
Acho que eu tinha entre 12 a 13 anos
quando estudei para esse exame, durante um ano, no Colégio Monsenhor
Constantino Vieira, sob a direção de Padre Vicente (conhecido apenas
assim, sem sobrenome), reverendo sisudo, totalmente careca, abria a boca
sem mostrar os dentes. Com sua batina preta surrada, quase arrastando pelo
chão, baforando, de vez em quando, seu charuto cubano (legítimo) ao velho
estilo do cineasta Alfredo Hitchcock.
Era absurdamente brabo. Um tsunami de
ignorância. Pense no medo que todos nós tínhamos de sua presença. Como não
bastasse toda obrigação de praxe dos estudos, tínhamos ainda que ir para missa,
fazer penitência, confessionário, hóstia e mais: buscava ele,
incansavelmente, nos transformar em verdadeiros santos do que um
profissional bem-sucedido de amanhã.
Voltando ao assunto. O livro
abrangia às disciplinas de português, matemática, geografia e história do
Brasil. Ministrada por professores especializados nas referidas matérias.
Como já disse, o exame de admissão
constituiu por décadas a linha divisória entre o ensino primário e a escola
secundária, um novo espaço de luta para o estudante. Quando passei neste exame
e ingressei no tão sonhado ensino ginasial, comecei a captar três regras da
vida: sonhar, acreditar e realizar. Como alguém me sussurrasse: aqui está a
base para arrumar e cimentar o seu futuro, como cidadão e como profissional.
Não foi fácil, contudo.
E nada de esperar que o sonho se
realize por mágica. Pois mágica é ilusão. E ilusão não tira ninguém do lugar
onde está. Ilusão é combustível de perdedores. Como bem ressalva o escritor e
palestrante Roberto Shinyashiki.
É preciso dizer: claro, àqueles que
se destacavam como bons alunos durante o primário, como costumamos dizer no
linguajar popular, tiravam de letra no exame de admissão.
Pra fechar, essas lembranças
cintilam, hoje, num momento de carência de nossa educação (ensino).
LINCOLN CARTAXO
DE LIRA
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