sábado, 20 de maio de 2023

Foro privilegiado

 

A partir de agora, presos provisórios com curso superior serão encaminhados para celas comuns e não mais para locais distintos dos demais, foi o que decidiu o STF, recentemente.

Mas não basta! Espera-se, também, que o STF acabe com o instituto do foro privilegiado, que tem dado guarida a figurões de nossa República, em crimes com tanta impressão digital.

Nesse tocante, o novo entendimento do STF é que o foro por prerrogativa de função se aplica apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhos.

  Ora, ora... Se todos nós temos que ser julgados com igualdade perante a lei, porquê, temos esse foro privilegiado?

De fato. O Brasil é considerado por especialistas como o país com mais autoridades resguardadas pelo foro especial no mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, nem o presidente tem direito a esse benefício, a essa regalia esdrúxula.

É espantoso. Boa parte das pessoas que conheço, incluindo a mim mesmo, acha uma aberração tal prerrogativa que fere frontalmente o princípio republicano da igualdade, segundo o qual a lei deve ser aplicada da mesma maneira a todas as pessoas, independentemente da posição social.

            Ouvi essa discussão não uma, nem duas, mais várias vezes. Ninguém pode pretender estar acima da lei na democracia. Ninguém pode querer ser intocável. É antiético, imoral, injusto. Na Espanha, na Suíça, na Holanda e nos Estados Unidos, para ficarmos em alguns poucos exemplos, não existe foro privilegiado.

            Então que me pergunto: como é que pessoas inteligentes e bem informadas têm o arrojo de ignorar essa realidade? É bom lembrar que o foro privilegiado subverte princípios processuais fundamentais e a própria organização do sistema de Justiça. Tribunais são estruturas concebidas para reapreciar causas, e não para colher provas e instruir processos. Isso leva, certamente, à morosidade, com consequências descabidas da prescrição, coroando o amargo sabor da impunidade.

 É uma lástima! Ah, faça-me um favor! Não dá para engolir essa presepada. E que tem produzido a consequência nefasta no Brasil de gerar impunida. Falo sério!

            Não se admite, eticamente, que os ministros do STF e o procurador Geral da República, indicados pelo presidente da República e aprovado pelo Senado, venham no futuro se deparar na situação de julgadores de quem foi responsável pelas suas nomeações. Por mais que o acusador e os julgadores contem com garantias constitucionais para sua independência. Mesmo assim, há um grande risco de vinculação política, ideológica e sentimento de gratidão para com aqueles que contribuíram nas suas nomeações.

            É isso. Que mais posso concluir daí senão dizer que o foro privilegiado é um menosprezo ao cidadão, e tampouco pode ser abrigo para indigência moral, indigência ética.

            Voltarei em breve para confabular sobre esse assunto.

 

 

                                                      LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                    

                                                    

 

 

 

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