sábado, 20 de maio de 2023

Lojas Americanas

 

            Escrever este texto, neste momento específico, mobiliza um repertório de sensações e percepções de impunidade sobre o caso das Lojas Americanas.

            Quando se diz que “o Brasil não é um país sério”, frase atribuída a Charles de Gaulle, tem lá suas razões.

            Não é complexo de “vira-lata”, descrito por Nelson Rodrigues. Pois, até agora, os sócios majoritários (Jorge P.Lemann, Carlos Sucupira e Marcell Telles) dessa varejista continuam impunes, com uma defesa esdrúxula. Nada mais irreal e falacioso. Chega a ser hilário. Constrangimento? Nenhum.

Como alguém me surrasse-se: “É conversa para embalar idiotas”.

            Pelo que sei, tais sócios ainda não estão respondendo por nenhum processo cível e/ou criminal decorrente dessa inusitada fraude contábil. Péssimo exemplo!

            Não, mil vezes não, podemos continuar dando as costas para esse estado de coisas. Ou nos colocando naquela situação deplorável, eu lavo as mãos tal-qualmente Pilates.

            O que se viu foi um desastre (rombo de 40 bilhões) que colocou em xeque a credibilidade de todo um espectro de empresas e investimentos, lançando desconfiança sobre as demais companhias dos citados sócios.

            A origem dos problemas (financeiros) das Lojas Americanas é antigo, mas estava mascarado por meio de auxílios pontuais, como as linhas de créditos especiais disponibilizadas durante a pandemia.

            É preciso dizer que o rombo de 40 bilhões de reais é muito para uma empresa com patrimônio líquido de 14,7 bilhões de reais, que tinha um valor de mercado de 10,8 bilhões de reais um resultado líquido anual de 3 bilhões de reais, valor insuficiente até para pagar os juros do valor devido.

            Não podia ser diferente, acesso o estopim, a bomba explodiu. As ações da empresa despencaram 80%, pulverizando 9,6 bilhões de reais de seu valor, em uma semana.

            Não estou dizendo nada de novo. Uma vez que o Carlos Sicupira (um dos sócios) numa palestra energizadora para papeleiros, disse: “O Brasil não será Estados Unidos. Porque o Brasil é o país do coitadinho, do direito sem obrigação e é o país da impunidade. Isso é cultura. Não vai mudar”.

            Já falei noutra oportunidade, nesta coluna, que o Brasil está doente, muito doente. É uma doença degenerativa de natureza moral que afeta a inteligência, mas sua metástase se espalha até o mais longínquo órgão saudável e o contamina.

            Pra fechar, o grito de justiça, nesse caso como em outros, é quase inaudível; confunde-se com a paisagem sonora da vergonha institucional.

 

                                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA

 

           

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