domingo, 29 de maio de 2016

Conversa de salão

            Quando recorro aos serviços profissionais do habilidoso Wilson (Salão Wilson) para dar um trato na barba ou na cabeleira, sempre saio cada vez mais convencido que não existe lugar mais apropriado, como esse, para se atualizar com os bastidores da política/economia, quiçá estendendo-se a um processo terapêutico, em que o cliente desestressa e se diverte.
            Por incrível que possa parecer, segundo Wilson, nesse ramo, existe também o cliente “mala”, aquele que fala pelos cotovelos, inventa que tem muito dinheiro e ainda pede desconto na hora de pagar, a solução é alertar os outros colegas de profissão para não serem fisgados  - e manterem distância.
            Vai parecer disparato, e talvez seja em razão de não ser “expert” no assunto, mas acho que podemos ter sobrancelha rala, orelhas de abano, o olhar levemente estrábico, o nariz adunco, mas com um cabelo bem-tratado, o resto é coadjuvação.
Outro dia me encontrava em São Paulo, entrei numa barbearia “à moda antiga” para fazer somente a barba. Caramba, além da decoração dos móveis (clássico) e do tom de informalidade, o ambiente tinha uma perfeita recepção protocolar de boas vindas. Resíduos de um cavalheirismo que parece ter se perdido no tempo.
Sem querer querendo tinha entrado no meu passado de garoto, onde os barbeiros desempenhavam o papel de psicólogos, coisa rara na época, de navalha em punho, ajudavam o cliente a tomar decisões importantes, fosse ele marido traído, executivo recém-demitido ou juiz indeciso sobre sentença.
Pois bem. O cara que me atendeu se apresentou com um aperto de mão firme, e olhei de soslaio para as mãos dele, que eram vigorosas, com dedos largos, como as de um artesão. Eu estaria sendo relapso se não acrescentasse que ele era simpático, bem-educado e impecável no trato, pareceu estar beirando os 50 anos. Acredito nisso, sempre acreditei: podemos ser gentis, mas não servis.
            Como já era esperado, o referido cabeleireiro foi logo abrindo o diálogo:
            - E a Lava Jato? É ou não é, o suprassumo da canalhice?
            Ah, claro. Depois de muito papo e relatos ruins à beça sobre o Brasil, e com a mesma gentileza com que havia me recebido, despedimo-nos. Blim-blom. Abriu a porta, porém, alertando-me:
            - Não esqueça doutor: dinheiro é uma bênção. Quem tem, precisa usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Bye-bye!

                                            
                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                     lincoln.onsultoria@hotmail.com

                                                       Advogado e mestre em Administração

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