terça-feira, 3 de maio de 2016

A crise da imprensa

Dias atrás, eu estava aguardando uma encomenda na agência central dos correios, e bem próximo de mim tinha dois senhores. Conversavam. Discretamente resolvi ouvi-los. Um perguntava ao outro: -“Estou decepcionado com a imprensa!”. O outro, quase enfezado, respondeu: -“Realmente, a imprensa não consegue sair do rame-rame”.
Como se não bastasse, um sujeito encostado no balcão não resistiu. Pegou um deixa e deu sua contribuição à conversa: -“Mas e daí? Estamos no Brasil!”. Os exemplos abundam.
            Não precisa ser nenhum cientista político, sociólogo, antropólogo ou ter qualquer outra especialidade acadêmica para saber que a crise da imprensa, não só aqui como noutros países, é o da perda de credibilidade – é uma crise ética, de sua transformação em um instrumento da publicidade (ponto de vista econômico), e da sua constituição em mentor político e ideológico da direita.
            É bom lembrar: ao entrar no joguinho medíocre-mediático do descaso e da leniência, o jornal acaba subestimando o nível de seus leitores, sem contribuir com o que deveria ser verdadeiramente o seu papel. “O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter”, já dizia o jornalista Cláudio Abramo.
            Mentir não é pecado apenas perante Deus, mas igualmente perante os cidadãos. Pois bem, o fechamento de jornais, dispensa de jornalistas e a diminuição de suas tiragens é apontada como responsável: a difusão da internet grátis, dos jornais nos meios digitais, e uma longa lista de et cetera.
            Eu sou do tempo, lá no interior, que se dizia que jornal servia para embrulhar peixe. Depois, passei a valorizá-lo através de seu escrito – com tinta envenenada e em papel envenenado – na defesa da liberdade, da democracia e do bem comum.
            É importante alargar o campo de visão da linha editorial jornalística. Não adianta querer convencer o leitor de que as coisas estão mais ou menos “good”, quando é o oposto, estão mais para “bad”. Assim, a tão falada luz no fim do túnel, para muitos, essa luz pode ser um trem vindo em direção contrária.
            Afinal, que é que falta? Além do que já foi dito, está faltando (salvo rara exceção) um jornalismo que se preze e adote uma linha progressista, tendo como seu patrimônio a ética social, suas posições políticas democráticas, o espírito pluralista dos seus comentaristas, a originalidade das suas coberturas jornalísticas.


                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                            lincoln.consultoria@hotmail.com
                                            Advogado e mestre em Administração


                                                                        
                                                                                                                                   
           
            

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