Dias
atrás, eu estava aguardando uma encomenda na agência central dos correios, e bem próximo de
mim tinha dois senhores. Conversavam. Discretamente resolvi ouvi-los. Um
perguntava ao outro: -“Estou decepcionado com a imprensa!”. O outro, quase
enfezado, respondeu: -“Realmente, a imprensa não consegue sair do rame-rame”.
Como se não bastasse, um sujeito
encostado no balcão não resistiu. Pegou um deixa e deu sua contribuição à
conversa: -“Mas e daí? Estamos no Brasil!”. Os exemplos abundam.
Não precisa ser nenhum cientista
político, sociólogo, antropólogo ou ter qualquer outra especialidade acadêmica
para saber que a crise da imprensa, não só aqui como noutros países, é o da
perda de credibilidade – é uma crise ética, de sua transformação em um
instrumento da publicidade (ponto de vista econômico), e da sua constituição em
mentor político e ideológico da direita.
É bom lembrar: ao entrar no joguinho
medíocre-mediático do descaso e da leniência, o jornal acaba subestimando o
nível de seus leitores, sem contribuir com o que deveria ser verdadeiramente o
seu papel. “O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática
cotidiana do caráter”, já dizia o jornalista Cláudio Abramo.
Mentir não é pecado apenas perante
Deus, mas igualmente perante os cidadãos. Pois bem, o fechamento de jornais,
dispensa de jornalistas e a diminuição de suas tiragens é apontada como
responsável: a difusão da internet grátis, dos jornais nos meios digitais, e uma
longa lista de et cetera.
Eu sou do tempo, lá no interior, que
se dizia que jornal servia para embrulhar peixe. Depois, passei a valorizá-lo
através de seu escrito – com tinta envenenada e em papel envenenado – na defesa
da liberdade, da democracia e do bem comum.
É importante alargar o campo de
visão da linha editorial jornalística. Não adianta querer convencer o leitor de
que as coisas estão mais ou menos “good”, quando é o oposto, estão mais para “bad”.
Assim, a tão falada luz no fim do túnel, para muitos, essa luz pode ser um trem
vindo em direção contrária.
Afinal, que é que falta? Além do que
já foi dito, está faltando (salvo rara exceção) um jornalismo que se preze e adote
uma linha progressista, tendo como seu patrimônio a ética social, suas posições
políticas democráticas, o espírito pluralista dos seus comentaristas, a
originalidade das suas coberturas jornalísticas.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado
e mestre em Administração
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