sábado, 1 de janeiro de 2011

A pegadinha

            Sou da época em que não existia ainda a televisão e nem esses outros trecos tecnológicos pós-moderno. Eis a razão pela qual assistir uma malandragem de “pegadinha” então, nem pensar.
            No insólito consultório odontológico, estava eu lá, aguardando a minha vez para dá início àquele insuportável tratamento cirúrgico. Aguardando também por aquela pergunta já manjada: “Ei, você tá bem?” E pela ainda mais hipócrita saudação “tudo bom?”. Ora, é claro que não – senão, eu não estaria aqui.
            Enquanto assistia na recepção, juntamente com outros clientes, um desses programas de “pegadinha” - pode parecer oportunista ou de piadas, mas é exatamente o contrário – não é que eu me lembrei de um episódio ocorrido na minha infância, quando morava na cidade do Padre Rolim – Cajazeiras, precisamente na rua Bonifácio Moura. 
            Passava gente pra lá e passava gente pra cá como, de resto, acontece em qualquer calçada. Principalmente, numa cidade do interior em pleno dia de feira-livre. Sem mudanças visíveis, sem nuances.
            E eu... confesso agora... descobrira (há tempo) que tinha um plano na cabeça. E esse plano se baseava numa picante “pegadinha”, a exemplo do que aparece hoje. Onde a ideia consistia colocar no meio da calçada um pacote bem arrumado, em papel de presente, contendo em seu interior um frasco de Perfume de Alfazema cheio de urina.
            A bem da verdade, a invenção e a organização dessa tremenda presepada tiveram também a participação da minha turminha (criançada). Com frio na barriga, mal me aguentava nas pernas, não só pela curiosidade como pelo medo do desdobramento que estava para acontecer.
            Não demorou muito para um matuto, vindo de algum sítio da redondeza, mesmo com a pulga atrás da orelha – olhava para trás, olhava para os lados – apanhou a pequena caixa. Mal sabia ele que naquele embrulho se encontrava.
            Abro um parêntese, para dizer que o tal matuto era um tipo original: baixinho, bigodinho quase imperceptível, pele tostada pelo sol, chapéu de palha enterrado até as sobrancelhas, usando uma calça frouxa de brim e um casaco feito de retalhos coloridos.
            Ih... não é que o sujeito caiu direitinho na armadilha.
            Pense numa popa! Que vexame!
            Com uma baita cara de mau, puto da vida, espumando pela boca, totalmente fora de si, saca uma peixeira, e aos berros:
            -Peraí! O que é isso?!
            - Vê, eu sou macho. Cadê o f.p. que fez isso? Eu mato e ainda bebo o sangue.
            Da varanda da minha casa (escondidinho) a tudo observávamos, pra ver o bicho que ia dar – e que deu!!!

                                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                    

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