Vai
longe o tempo em que dançar com rosto colado é coisa que os jovens de hoje não
conhecem como preliminares de um ato de sedução. Nesses bailes ou boates de
antigamente, os jovens rastreavam o salão em busca da garota para dançar e quiçá
iniciar um namoro.
É verdade. As danças se prolongariam
e, na hora exata, os rostos se colavam e a sedução começava com uma conversa de
ouvido. Transformando-se numa idêntica enciclopédia romântica que valia até
mentiras ingênuas.
Outro dia, eu circulava pela praia
do Poço (Cabedelo), quando dei por mim, lembrei da inauguração da boate Cadeia,
na década de 1970, que funcionava bem próximo do famoso restaurante Badionaldo.
Um diário do passado foi invadindo a minha cabeça.
Bons tempos aqueles onde se estudava
e trabalhava muito para no fim de semana curtirmos as festas com os amigos e,
evidentemente, com as garotinhas. Época que o mundo não estava perdido, estava
achado. Você era o cara, o melhor papo da praça.
A inauguração da citada boate foi
muito badalada. Fiz questão de participar com roupa e sapatos novos. O detalhe
aqui está nos sapatos, mais na frente deste texto direi por quê.
Festa rolando... o galanteador aqui na
espreita, na expectativa que “pintasse um clima”. Ou melhor: de chamar alguma
garota para dançar.
Depois do convite formalizado de
“vamos dançar” e aceito com o “sim”, começamos a entrar no ritmo musical, já
arrasando, pois os nossos olhos já tinham se cruzado antes disso. Sinal de
empatia para dançar, no mínimo.
É. Logo vi que alguma coisa me
puxava em uma de minhas pernas, e com isso perdi o compasso da dança.
Eu olhei para os lados para ver o
que estava acontecendo, e murmurei:
- Nossa, alguma coisa está errada?
Dei mais uma olhada em volta, e nada.
- Será que eu estou bêbado ou
desaprendi a dançar? Céus. Que coisa.
Sem perder a pose, continuei ali dançando,
mesmo desequilibrado. Porém, fora de ritmo. Vexame total.
Que cena ridícula. Para meu espanto,
ainda percebi um segurança cutucando o outro com o cotovelo, apontando na minha
direção. Com aquele sorriso de bundão.
Quando de repente, não mais que de
repente, dei conta que o salto de um dos meus sapatos tinha caído e
desaparecido. Até pensei que estava desamarrado. No duro. Que sufoco!
Sim, cai na real: perdi o salto!
Como? Não sei!
O desespero tomou conta. Haja eu
olhar a procura do danado do salto. E nada!
A garota já incomodada, me olhando
meio de soslaio, indagou:
- Hum, tem alguma coisa errada? Você
está sentindo alguma coisa?
O incidente fez com que, ali mesmo,
terminasse a dança e o papo.
Nessa noite não dormi. De manhã,
ainda na cama, fui me certificar. Poderia ter sido um sonho. Nada. Era vero.
Até hoje, não sei onde o infeliz
salto do tal sapato se escondeu, escafedeu-se.
LINCOLN
CARTAXO DE LIRA
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