domingo, 10 de setembro de 2023

Abandono social

 

                       

                Faz sentido, sem dúvida, dizer que as ruas do Brasil estão doentes. Não adianta improvisar, adotar medidas paliativas, abarrotadas de incongruência. O avesso do que se dá por certo.

            Refiro-me à exposição de moradores sem teto, de pessoas que consomem drogas abertamente, a qualquer hora do dia e em qualquer lugar, de vulneráveis subjugados pelo crime organizado, de crianças exploradas por adultos, familiares ou não, usando-as como reféns para inspirar algum tipo de misericórdia que resultem em dinheiro.

            Descordo frontalmente do consenso errático de que as pessoas estão nas ruas unicamente por serem pobres. Há nas ruas um efetivo incontável de usuários de drogas e indivíduos com transtornos mentais.

            O Brasil está de joelhos diante dessa mazela. Basta sair às ruas para confirmar essa realidade vergonhosa. Tá lá: símbolo máximo do descaso. E a cidade de João Pessoa não foge à regra, infelizmente.

            Fico triste ao constatar tudo isso. Um ambiente inóspito aos olhos. Uma cegueira da razão.

            Como diria pausadamente o ator Jack Palance nos anos 80, com seriedade e suspense (sim, isso é possível): “Acredite... se quiser”. Bom. Recentemente, quando me dirigia à Caixa Econômica Federal (agência Tambaú – Ruy Carneiro), como faço quinzenalmente, constatei essa triste realidade (dos sem teto), na marquise desta instituição financeira. Para documentá-la tirei a presente foto.

            Podes crer, fiquei surpreso com a reação de um deles (completamente drogado):

- Você... você mesmo. Porque está tirando foto? Não pode, não!

            E foi muito rápido. Muito. Aquilo soou como uma ameaça.

- Calma aí, amigão. Estou fazendo isso para ajudá-los.

            Tal exposição vexatória e degradante já faz parte de nosso cotidiano. Questão é que os nossos governantes e a sociedade não oferecem soluções. Mais do que se indignar, é preciso mudar conceitos. Fugir desse altruísmo patológico – quando a ajuda se torna inútil, improdutivo e até mesmo destrutivo.

            Entenda-se: a somatória de erros associada à ausência de atendimento psiquiátrico adequado e de oferta de tratamento para que a pessoa deixe de consumir drogas resulta em uma tempestade perfeita.

            Não é possível termos cidades saudáveis com essas pessoas largadas à desordem social da lógica da rua. Ou seja: temos que criar o conceito de ruas e cidades saudáveis para oferecer soluções.

            Uma política de Estado se faz urgente. Esse pessoal precisa de urgente acompanhamento psiquiátrico. Não tem como alguém ter a mínima chance de reconstruir a vida a partir da rua.

            Ainda há tempo para mudar, e querem saber até pedir desculpas por essa tragédia urbana.

 

                                         LINCOLN CARTAXO DE LIRA

           

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