segunda-feira, 29 de julho de 2013

Transporte público



       A situação do transporte é uma coisa meio Bin Ladin, uma bomba. Onde o seu usuário desce a lenha, com gosto. Só se fala nisso, com reportagens e mais reportagens sobre o assunto. Mas, não há outro jeito, temos que falar e questionar pra ver se um dia o governo desperta para esse abacaxi de preocupação nacional.
            Problemão inserido no “retrato de problemas” que o governo se mostra acuado e enfraquecido para enfrentá-lo, com sua base política em pé de guerra. E não adianta colocar esse material explosivo no colo alheio (Congresso Nacional) que também não resolve. Daí o medo de que, se o barco não mudar de rumo, todos possam a naufragar juntos.
            Por que isso acontece? Eu tenho uma teoria, ainda que eu seja tudo, menos teórico no tema. As raízes de tal problema não são apenas urbanísticas. O Brasil reproduz há anos um modelo que privilegia o transporte individual. O resultado foi o emplacamento de mais de 2 milhões de veículos apenas no primeiro semestre de 2012, segundo dados da Fenabrave.
            Está no DNA do Estado brasileiro desde os anos 50 achar que o carro merece tudo. Ao justificar que milhares de pessoas vivem da sua produção e tudo isso, somado, representa interesses monumentais. Assim, o governo federal defende as isenções como medidas de política econômica para criar empregos, manter o consumo e controlar a inflação após a crise de 2008, que derrubou mercados mundo afora. Um velho dito calha à espécie com perfeição: de boas intenções o inferno está cheio.
            Nesse cenário cabuloso, o transporte individual recebe isenção e subsídios de R$ 16 bilhões ao ano, enquanto os ônibus recebem R$ 2 bilhões. A proporção das desonerações de carro e ônibus é de oito para um. Enquanto o ônibus ganha R$ 1 de incentivo, o carro, a moto e o táxi têm isenções de R$ 8. É inescapável, por isso, o bordão: ninguém, de fato, está entendendo nada. Principalmente nossa presidente Dilma.
            É inadmissível, entristecedor e assustador viver em uma sociedade que não há uma política de transporte público eficiente e organizada. Mesmo sabendo que o ônibus (que abocanha hoje 30% do salário das famílias) é um dos vetores essencial da mobilidade urbana que garante o acesso à cidade e aos serviços públicos para todos os cidadãos, cuja fluidez depende urgentemente de corredores de ônibus, inclusive nas periferias.
            Ah, e que fique claro: dos 11 direitos instituídos pela Constituição brasileira - entre elas educação, saúde, trabalho e laser - nenhum é plenamente alcançado sem a presença do transporte, notadamente para quem utiliza o ônibus.

                                                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                                                  lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                                                     Advogado e Mestre em Administração

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