segunda-feira, 8 de julho de 2013

Maioridade Penal



       Gostaria de me enfiar, mais uma vez, nessa conversa sobre a redução da maioridade penal. Contudo, sem titubeios e sem abrir mão de minhas convicções, mesmo amargando o meu isolamento diante de uma pesquisa feita pela Confederação Nacional dos Tranasportes/MDA, onde revela que 92,7% dos brasileiros são a favor dessa redução, dos atuais 18 para 16 anos.
            Como diz o meu velho amigo Cordeiro, com seus olhos esbugalhados, no Brasil do faz de conta, a polícia faz que prende; a Justiça faz que pune; o povo faz que acredita em ambos. Não sei se os brasileiros, nessa pesquisa, foram levados pela miragem dessa tese. A verdade é que, há em toda a sociedade, um estado de revolta que manifesta por providências impendentes, em face dessa onda de violência (envolvendo adultos e, muito menos, adolescentes) que assola o cidadão.
            Permitam-me alertar que é muita ingenuidade achar que a violência vai acabar com essa alteração da maioridade penal, ou melhor, sequer atenuar. Segundo dados do Ministério da Justiça, cerca de 140 mil são os presos de 18 a 24 anos, sendo essa a faixa de idade com maior representação (disparada) nos presídios brasileiros. Ou seja, a aplicação do direito penal normal não impediu ações violentas por parte desses jovens.
            Li recentemente na Folha de S.Paulo que a jornalista Luiza Pastor, aos 19 anos, foi estuprada pelo garoto “P.S.”, e conta como o trauma fez dela contrária à alteração da norma penal. “Fiz os exames necessários no meu médico e me preparei para ir embora do Brasil para uma longa temporada”, assim declarou.
]           Eis um apanhado cru e honesto dessa história. O menor egresso de várias detenções tinha o estupro por atividade predileta, mas sempre se safara. Filho de mãe prostituta e pai desconhecido, havia sido criado pela avó, uma senhora evangélica que tentara salvar-lhe a alma à custa de muitas surras. Na delegacia, enquanto a jornalista (vítima) prestava a referida queixa, um policial entrou na sala e mandou a pérola: “Ah, de novo esse moleque? Esse não adianta prender, que o juiz manda soltar, o melhor é a gente deixar ele escapar e mandar logo um tiro”.
            Nada disso faz nexo no mundo do bom-senso, razão pela qual a jornalista recusou a continuar o depoimento, nada mais disse. Eles não precisavam dela para condená-lo; já tinham acusações suficientes e não lhe deram maior importância. Essa é a caricatura, em maior ou menor grau, de nossa realidade.
            É aquela coisa: sem dar a todos, menores e maiores, uma oportunidade de educação e de recuperação, algo que exige investimento e vontade política, uma política de Estado consciente de suas responsabilidades, teremos criminosos cada vez mais cruéis, formados e pós-graduados nas cadeias e “febens” da vida.
            Problema dele (menor)? Não. Infelizmente é problema nosso.

                                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                        lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                          Advogado e Mestre em Administração

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