quinta-feira, 20 de julho de 2023

Rei do Ritmo

 

            Hoje, se estivesse entre nós, Jackson do Pandeiro estaria revoltado com o tratamento afrontoso que está sendo dado ao autêntico forró. Principalmente pelas nossas autoridades públicas que enxergam (estupidamente) o forró como música ultrapassada, que não arrasta gente, tampouco levanta grana para custear as sofisticadas festas juninas.

            Não é razoável! É preciso dizer. É preciso pôr fim a isto. Para o povão, só é possível a um governante com alto nível de insanidade, burrice e incompetência - para não dizer outros adjetivos nada meritórios. É um insulto a cultura nordestina. É um deboche intencional e vulgar.

            Dia desses encontrei um amigo, de colegial, entre um papo e outro, relembramos do show de Jackson do Pandeiro que assistimos juntos. Oportunidade em que fiquei admirado com a criação e a improvisação das palavras cantadas e da performance da melodia. Ele já tinha fama de Sua Majestade, Rei do Ritmo.

           Esse show, a que me refiro, ocorreu em 1968, no famoso Tênis Clube de Cajazeiras. Guardo na minha memória aquele baixinho, magro, cafuzo, bigodinho ralo e o seu inconfundível chapéu e camisa estampada. Hoje carrego o orgulho desse registro histórico. Confesso, desde então (ainda garoto), virei seu fã bobão.

            Como diz o meu amigo de colegial, “Nós, da turma de intelectuais fuleiros e lisos”, jamais poderíamos deixar de comentar e homenagear Jackson do Pandeiro (1919-1982). Então, vamos lá. Ele nasceu em Alagoa Grande, o seu estilo ganhou corpo em Campina Grande e saiu de Pernambuco para conquistar o mundo.

            Seu disco de estreia (em 1953) trazia o coco “Sebastiana” e o rojão “Forró em Limoeiro”, tivera incríveis 50 mil compradores, logo uma façanha até para os cartazes da Rádio Nacional. “Enquanto Luiz Gonzaga popularizou o baião, o xote e xaxado, Jackson projetou o coco, o samba nordestino, com divisão rítmica vertiginosa e letras de métricas afiadas”, manifesta o crítico musical Tárik de Souza.

            Epítetos geralmente não erram – Jackson era o Rei do Ritmo. Também o homem orquestra. Tocou de tudo: ganzá, reco-reco, zabumba, tamborim, gaita, sanfona, piano. Se fosse para puxar um jazz ou um blues na bateria, não tinha problema. Mas é no pandeiro que ele brilhou. Pudera, seu virtuosismo no domínio do instrumento se tornou lendário.

            Como diz o historiador, Luiz Antônio Simas, “Jackson do Pandeiro, está para a música brasileira como Mané Garrincha para o futebol. Pintava o sete igual o camisa sete do Botafogo”.

            À futura geração: espero que a arte musical do forró pé-de-serra, deixado pelos mestres Luiz Gonzaga e Jackson Pandeiro, não seja esquecida, não seja apenas um verbete no dicionário.

                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                    

                                 

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