quinta-feira, 30 de julho de 2020

A humilhação

            É imperioso voltar ao tema, tratado por este articulista, na semana passada. 

            Desprezado, ridicularizado, o tal Desembargador Siqueira foi defenestrado pela sua atitude grosseira perante um guarda municipal. Daí me veio à cabeça que essa dolosa prática não é nada diferente àquela adotada em relação ao racismo. Provocando-nos uma triste sensação de déjà-vu.  

            Desastre civilizatório. Deselegância da face estética da boçalidade e do caráter tresloucado. É preciso reagir. Isso colide o que vai ao âmago de ser humano: a humilhação. 

            Em razão da alta dosagem de desigualdade social, o racismo tornou-se um campo fértil para a exposição vexatória e degradante. 

Recentemente, em Salvador, Gabriel, 22 anos, saía do banco quando foi preso por policiais militares. Seu crime? É negro, tem tatuagens e o cabelo pintado de loiro. Foi confundido como um assaltante. Uma mobilização pelas redes sociais conseguiu libertá-lo. Seu colega que estava junto dele não teve a mesma sorte, morreu. 

Até quando a cor da pele será uma sentença de morte no Brasil? Não só aqui como noutro lugar do mundo. Foi o caso de George Floyd, homem negro assassinado pela polícia dos Estados Unidos. 

Ao responder um chamado do vendedor de um mercadinho próximo que ligara para o “911” e acusando Floyd de tentar pagar-lhe com uma nota falsa de 20 dólares. Ele, segundo a promotoria, afirmou ser claustrofóbico quando os policias tentaram fazê-lo embarcar na viatura. 

Já imobilizado no chão, flagrado através de vídeo, Floyd  repete várias vezes que não consegue respirar. “Mas nem por isso está deixando de falar”, responde um dos policiais. Ao cabo de alguns minutos, Floyd fica imóvel, os olhos sem vida. Em pouco tempo, o som e as imagens corriam o mundo. 

Confesso que fiquei horrorizado diante desse comportamento de neurose narcisista e careta de branquitude. Fruto de desigualdades raciais e contrastes sociais. Eu mesmo enterrei o rosto nas mãos, de dor e de vergonha pelas atrocidades.  

Dada essa idiossincrasia humana, precisamos começar urgente a trabalhar na aquisição de uma linguagem que dê conta das questões de raça e doutro tipo de discriminação, encontrando espaço para nos recuperarmos e ainda crescer, além da coragem de fazer mudanças. 

 

                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA 

                            lincoln.consultoria@hotmail.com   

                              Advogado e mestre em Administração 

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