terça-feira, 14 de julho de 2020

Fastio da vida


            Um dos setores da nossa economia que mais sofreu, ainda vem sofrendo, por conta dessa pandemia (Covid-19), é o bar. Já o restaurante, por sua vez, tem a opção do delivery, mas, o bar, este não.
            Como danado alguém vai pedir por delivery uma lapada de cana, acompanhado com aquele tradicional caldinho de feijão com charque, ou queijo coalho derretido, ou o escondidinho de carne de sol.
            Sem esquecer: da tal cervejinha estupidamente gelada ao gosto do freguês, que só in loco o bar tem. Às vezes, ela é carinhosamente atendida por “véu de noiva”, “capa branca”, “mofada”, “canela de pedreiro” e “cu de foca”.
            Não aceito outra escolha. Se concordarmos que a vida humana é preciosa, não podemos sacrificá-la. O ganho econômico não deve ser comparado com a perda de vidas. Porém, as autoridades econômicas têm que socorrer os setores de bar e restaurante, através de linhas de crédito para capital de giro.
            Cruz credo! Olha, jamais vi alguma coisa parecida. Como diz um amigo, dono de bar, “Tá ruço, mano!”. A esta altura do campeonato, custa crer que essa atividade, pelas suas características, ainda vai demorar a funcionar, lamentavelmente. Vem mais choro por aí. Uma situação insólita ou surreal que o setor vem vivenciando. Mais parece ali é o fastio da vida.
            Uma verdadeira hecatombe (massacre) na economia desse setor. O cenário é de embasbacar. É um pesadelo. Os pequenos negócios sempre foram prejudicados por não terem condições financeiras para garantir os empréstimos aos olhos dos bancos. Não existe apetite para emprestar ao pequeno. Já não existia, agora (com a pandemia) piorou. No geral não existem canais, não existe boa vontade, e o crédito fica represado.
            Eu sou da época, que antes de ir para uma boate ou uma festa dançante, tinha que passar num barzinho para dar aquele “esquento”. Meu velho amigo Cordeiro, boêmio de carteirinha, costuma declarar que o bar é a celebração da vida. O consolo do perdedor, o pódio do vencedor, o lenço dos que partiram.  Enfim, é sinônimo de festa.
            O bar tem essa magia única. Foi o lar de Picasso e onde Ernest Hemingway teve suas maiores inspirações, após rodadas intermináveis de Conhaque, Daiquiris e Mojitos. Sou testemunha, em visita à Havana (Cuba), no “La  Bodeguita del Mero”, através de registros fotográficos, constatei que Ernest era cliente assíduo desse conceituado/histórico bar. Frenquentado também por Fidel Castro.
            Diante de tudo, estou otimista. Logo, logo, o bar vai se levantar e voltar a ser, como sempre foi, o lugar de alegria e da arte do encontro das pessoas.


                                                       LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                        lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                   Advogado e mestre em Administração

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