quinta-feira, 23 de julho de 2020

Aplicação da famosa carteirada


            Sobre o tema eu já havia escrito no saudoso Jornal Correio da Paraíba, onde lá dei a minha modesta contribuição ao longo de 15 anos.
            Naquela oportunidade, afirmava que o exercício do poder exige extrema prudência, espírito público, equilíbrio, serenidade, ética, mas, acima de tudo, simplicidade e humanidade.
            A famosa “carteirada”, característica do abuso de autoridade, uma jabuticaba explícita em seus desígnios, método brasileiríssima, digamos assim. Um método vergonhoso utilizado para demonstrar hierarquia e superioridade.
            Ora, bolas! A famosa “carteirada” é um ato que humilha, gera constrangimentos e decepciona quem é vítima, causa indignação para os que presenciam tal fato.
            No último fim de semana, fomos surpreendidos com mais um caso de abuso de autoridade, viralizado (através de vídeo) pelas redes sociais, mostrando um desembargador paulista, Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira, recusando a usar máscara de proteção à Covid-19 e, em seguida, parte para ofender um guarda municipal:
            -O senhor não é polícia (...) você sabe ler?
            O guarda avisa que terá que multá-lo.
            -Você quer que eu jogue (a notificação) na sua cara? Faz aí, que eu amasso e jogo na sua cara.
            -Você sabe ler? Leia bem (o documento) com quem o senhor está se metendo.
            (...)
            Ridículo, né? A que ponto chegamos... Absurdo é pouco! Assisti, ouvi e fiquei horrorizado com a atitude desrespeitosa do citado desembargador. Aqui está um bom exemplo de que o limite da ética, da moral, da lei foi para o beleléu.
            Diante desse escárnio e puro deboche, o ministro Marco Aurélio, sem meias palavras, assim se posicionou: “Autoridade da rua é o guarda, não o desembargador”. Tem mais: o referido infrator cometeu crime por “abuso de autoridade”, previsto na Lei nº 13.869, de 5/9/2019. Cujas penalidades, prevêem a perda do cargo e até prisão.
            Epa, fim de espaço. Concluo dizendo que ninguém tem o direito de achar acima da lei, e tampouco achar que são deuses.

                                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                            lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                Advogado e mestre em Administração

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