Minha
vida foi sempre cheia de sobressalto. Por escolha. Agora, estou em autoexílio
por causa do coronavírus, juntamente com a minha consorte Socorro. Tá chato pra
caramba isso.
Meus anos e cabelos brancos me aconselham
a meditar para essa triste realidade monótona: não mais escutamos os insultos
no trânsito, brigas entre taxistas e ciclistas, nem vendedores ambulantes
chamando os transeuntes para vender produtos, nem pedestres que pedem respeito
às faixas de trânsito para poder atravessar. Demais cenas que ocorrem todos os
dias. Passou a ser um verdadeiro tédio. Dá vontade de mandar o mundo de vez
para a cucuia.
À boca pequena, as apostas sobre o
futuro próximo são diversas: tem gente que afirma que neste mês (abril) tudo
isso acaba, enquanto os mais pessimistas (inclusive analistas) crêem que
estaremos até dois ou três meses encaixotados em casa. Tenha santa paciência!
É cedo pra fazer qualquer previsão,
as notícias mudam a cada hora e ninguém sabe o que nos aguarda, mas existe uma
chance de ouro de que este “circuit breaker” global faça com que paremos de
correr como ratinhos numa roda de egoísmo e imbecilidade e nos dediquemos a
alguma reflexão. Do tipo, como disse o filósofo espanhol Ortega y Gasset: “Pior
que ter uma doença é ser uma doença”.
É o momento de comunhão da
vizinhança, e um ritual para nos lembrar uns aos outros por que estamos aqui
encaixotados. Como é o caso de uma velhinha num vídeo na internet, em que os
vizinhos a surpreendem com um parabéns pra você da janela: “Nos vemos às oito
no aplauso?”.
Os gestores públicos, pressionados
pelo pânico, necessitarão de muita calma e suporte científico para não errar na
dose desse “tratamento”. Precisamos evitar mortes, mas é imprescindível avaliar
riscos e benefícios das condutas tomadas agora, pensar um pouco à frente e
buscar o maior número de evidências que possam nos guiar.
E quer saber? Se nos deixarmos tomar
pelo pânico, decorrente da Covid-19, este novo medo nos vai roubar também a
alegria de viver e a nossa capacidade de amar.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração
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