quarta-feira, 15 de abril de 2020

Minha quarentena


            Minha vida foi sempre cheia de sobressalto. Por escolha. Agora, estou em autoexílio por causa do coronavírus, juntamente com a minha consorte Socorro. Tá chato pra caramba isso.
            Meus anos e cabelos brancos me aconselham a meditar para essa triste realidade monótona: não mais escutamos os insultos no trânsito, brigas entre taxistas e ciclistas, nem vendedores ambulantes chamando os transeuntes para vender produtos, nem pedestres que pedem respeito às faixas de trânsito para poder atravessar. Demais cenas que ocorrem todos os dias. Passou a ser um verdadeiro tédio. Dá vontade de mandar o mundo de vez para a cucuia.
            À boca pequena, as apostas sobre o futuro próximo são diversas: tem gente que afirma que neste mês (abril) tudo isso acaba, enquanto os mais pessimistas (inclusive analistas) crêem que estaremos até dois ou três meses encaixotados em casa. Tenha santa paciência!
            É cedo pra fazer qualquer previsão, as notícias mudam a cada hora e ninguém sabe o que nos aguarda, mas existe uma chance de ouro de que este “circuit breaker” global faça com que paremos de correr como ratinhos numa roda de egoísmo e imbecilidade e nos dediquemos a alguma reflexão. Do tipo, como disse o filósofo espanhol Ortega y Gasset: “Pior que ter uma doença é ser uma doença”.
            É o momento de comunhão da vizinhança, e um ritual para nos lembrar uns aos outros por que estamos aqui encaixotados. Como é o caso de uma velhinha num vídeo na internet, em que os vizinhos a surpreendem com um parabéns pra você da janela: “Nos vemos às oito no aplauso?”.
            Os gestores públicos, pressionados pelo pânico, necessitarão de muita calma e suporte científico para não errar na dose desse “tratamento”. Precisamos evitar mortes, mas é imprescindível avaliar riscos e benefícios das condutas tomadas agora, pensar um pouco à frente e buscar o maior número de evidências que possam nos guiar.
            E quer saber? Se nos deixarmos tomar pelo pânico, decorrente da Covid-19, este novo medo nos vai roubar também a alegria de viver e a nossa capacidade de amar.


                                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                             lincoln.consultoria@hotmail.com
                                              Advogado e mestre em Administração
            


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