Outro
dia estava numa fila de supermercado quando de repente um senhor, com aparência
ter 65 anos, postado a minha frente, se virou irritadíssimo: “Ele está pensando
o quê! Acha que eu sou um babaca!”.
Esbaforido ao extremo, enquanto
arrumava os óculos com aro de tartaruga, o cabelo grisalho penteado para trás e
cavanhaque robusto lhe davam o aspecto de um personagem de romance antigo, então
ele veio me explicar todo o seu aborrecimento por causa da famosa carteirada
sofrida por certa autoridade no estacionamento do supermercado. Aquela do tipo
bem da cultura brasileira: sabe com quem está falando?
Parecia uma lição de esculacho.
Depois eu disse para mim mesmo: infelizmente trata-se de um autoritarismo
rotineiro e esquizofrênico, especialmente nos momentos em que os “donos do
poder” têm seus interesses pessoais confrontados. Ou seja: aos cidadãos comuns,
o rigor da lei; aos “donos do poder”, os privilégios e a faculdade de exercer,
permanentemente, o arbítrio (do manda e desmanda).
Ainda bem que o projeto da Lei de
Abuso de Autoridade, cujos trechos vetados e depois recuperados pelos
parlamentares serão incorporados à legislação quando forem promulgados e
publicados no Diário Oficial da União. Dando, assim, um basta ao que há de mais
abjeto na conduta humana, que é subjugar o próximo, ao arrepio da lei.
Voltando ao senhor do supermercado.
Quando diz que não é babaca em consequencia ao “abuso de autoridade”. Ora, a
primeira regra para não ser babaca com os outros é: não seja babaca consigo
mesmo. Se agir mal consigo mesmo, provavelmente agirá mal com os outros e, se
agir mal com os outros, eles farão o mesmo com você. Por isso, não saia por aí
se odiando ou se sentindo uma pessoa humilhada. Agora você tem como enfrentar e
coibir esse tipo de arbitrariedade.
Não custa lembrar que “aquele que
carrega os símbolos da autoridade não necessariamente os possui”.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração
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