Há
paradoxo latente entre tais entes da democracia. Notadamente quando se verifica
que os brasileiros aqui não confiam nos políticos e amam o Estado. Colocamos os
políticos na rabeira do ranking de credibilidade e mesmo assim demandamos
sempre mais Estado para solucionar nossos problemas.
O livro “Pare de acreditar no
governo” (Editora Record, 2ª ed., 2015) que acabo de ler, escrito por Bruno
Garschagen, mostra de forma lapidar essa contradição. O autor de forte rigor
intelectual, com palavras bem-vestidas, finíssimo humor, cuja obra já valeria,
por si só, a sua leitura.
Concordo plenamente com Bruno quando
diz que o conjunto das interferências estatais criou uma cultura de dependência
e de degradação política e moral difícil de ser combatida porque passa a fazer
parte da vida social como elemento estrutural. Daí fazer todo sentido afirmar:
quanto mais o governo intervém na economia, menos a sociedade produz riqueza e
prospera; quanto menos prospera, maior o grau de pobreza; quanto maior o grau
de pobreza, menor o nível de escolaridade; quanto menor o nível de
escolaridade, maior a preferência pela intervenção do Estado.
Essa interferência é motivo até de
gozação. Quem não se lembra de Mussum, figura dos saudosos “Trapalhões”, em que
repetia várias vezes que “o governo tá certis” ao aumentar os preços dos
produtos e só se irrita quando Dedé lhe diz que o preço da cachaça vai subir.
“O quê??? O mé??? Eita, governozinho
danadis!”.
É aquela coisa: se abrirmos a porta
de nossas casas para o governo, podemos ser obrigado a dividir as nossas
escolhas. Querer que o Estado intervenha em várias esferas da vida em
sociedade, sempre haverá políticos ávidos por satisfazer nossos desejos.
É isso. Bruno conclui a sua obra
dizendo que deixar o país na mão dos piores não nos torna melhores. E eu
arremataria: o governo e os políticos, no fim das contas, fazem parte do Brasil
que dá errado.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração
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