domingo, 3 de julho de 2016

Uma cidade transformadora

            Antes de embarcar para Medellín, na Colômbia, eu já tinha um bom conhecimento sobre essa cidade que teve a capacidade de combater a violência (virar o jogo), mesmo quando tudo parecia estar no fundo do poço.
            Ninguém em sã consciência, com a mais elementar noção da realidade, pode apostar um centavo furado na política de segurança adotada aqui no Brasil, que varre milhares de vidas inocentes a cada ano. Fiquei ainda mais convicto dessa percepção quando recentemente visitei Medellín, uma cidade transformadora.
            Para começo de conversa, lá a desigualdade econômica e social diminuíram, o índice de homicídios caiu em 80% e os empreendedores vão aumentar o PIB em 2% já em 2016. Nos anos 90, seus habitantes vivenciaram um ápice de violência urbana. Muito por conta dos conflitos com o narcotráfico, a média de homicídio chegava a quase 7 mil por ano. Para reverter tal situação, junto com o combate armado, chegavam os educadores (com projetos pedagógicos e tecnológicos) e os empreendedores.
            Interessante, não foi preciso ir para tudo ou nada. As armas utilizadas pelos seus gestores foram projetos culturais, como os célebres parques-bibliotecas, grandes edifícios de arquitetura moderna construídos em espaços públicos com imensas áreas de convivência, livros e tecnologia, chegando a receber cem mil pessoas por semana.
            Anteriormente, o símbolo máximo do caos (violência) era a Comuna 13 – um conglomerado de 25 favelas que se espalhavam pelas montanhas que cercam Medellín.  Não havia poder público e, para subir lá, só com autorização. Numa operação de guerra, o Exército ocupou a região e instalou bases militares.
            Ao caminhar pela viela das Comunas, até me deu um arrepio, não de medo, mas deslumbramento. Conferi um forte policiamento comunitário, onde as pessoas se sentem mais confortáveis para denunciar qualquer desordem. Além de todos esses policiais estarem devidamente treinados junto à comunidade, há os “vigilantes do bairro”, cuja missão é apenas informar as autoridades sobre movimentos suspeitos.
            Tem mais: afora as medidas repressivas, preventivas e educacionais, implementaram-se reformas urbanas nos bairros mais pobres, alguns deles nas montanhas, totalmente isolados. Instalaram escadas rolantes (é raro, inédito), promoveu-se a coleta do lixo, escolas foram ampliadas, abriram centros de saúde e ofereceu-se um sistema de transporte – em alguns casos, de teleférico – como constatei.
            Sinto muito! Apenas a vontade de combater a violência, por combater, sem lastro da essência da causa, pode dar samba, mas é só.

                  
                                                      LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                      lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                          Advogado e mestre em Administração


            

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