Antes de embarcar para Medellín, na
Colômbia, eu já tinha um bom conhecimento sobre essa cidade que teve a
capacidade de combater a violência (virar o jogo), mesmo quando tudo parecia
estar no fundo do poço.
Ninguém em sã consciência, com a
mais elementar noção da realidade, pode apostar um centavo furado na política
de segurança adotada aqui no Brasil, que varre milhares de vidas inocentes a
cada ano. Fiquei ainda mais convicto dessa percepção quando recentemente visitei
Medellín, uma cidade transformadora.
Para começo de conversa, lá a
desigualdade econômica e social diminuíram, o índice de homicídios caiu em 80%
e os empreendedores vão aumentar o PIB em 2% já em 2016. Nos anos 90, seus
habitantes vivenciaram um ápice de violência urbana. Muito por conta dos
conflitos com o narcotráfico, a média de homicídio chegava a quase 7 mil por
ano. Para reverter tal situação, junto com o combate armado, chegavam os
educadores (com projetos pedagógicos e tecnológicos) e os empreendedores.
Interessante, não foi preciso ir
para tudo ou nada. As armas utilizadas pelos seus gestores foram projetos
culturais, como os célebres parques-bibliotecas, grandes edifícios de
arquitetura moderna construídos em espaços públicos com imensas áreas de convivência,
livros e tecnologia, chegando a receber cem mil pessoas por semana.
Anteriormente, o símbolo máximo do
caos (violência) era a Comuna 13 – um conglomerado de 25 favelas que se
espalhavam pelas montanhas que cercam Medellín. Não havia poder público e, para subir lá, só
com autorização. Numa operação de guerra, o Exército ocupou a região e instalou
bases militares.
Ao caminhar pela viela das Comunas, até
me deu um arrepio, não de medo, mas deslumbramento. Conferi um forte
policiamento comunitário, onde as pessoas se sentem mais confortáveis para denunciar
qualquer desordem. Além de todos esses policiais estarem devidamente treinados
junto à comunidade, há os “vigilantes do bairro”, cuja missão é apenas informar
as autoridades sobre movimentos suspeitos.
Tem mais: afora as medidas
repressivas, preventivas e educacionais, implementaram-se reformas urbanas nos
bairros mais pobres, alguns deles nas montanhas, totalmente isolados.
Instalaram escadas rolantes (é raro, inédito), promoveu-se a coleta do lixo,
escolas foram ampliadas, abriram centros de saúde e ofereceu-se um sistema de
transporte – em alguns casos, de teleférico – como constatei.
Sinto muito! Apenas a vontade de
combater a violência, por combater, sem lastro da essência da causa, pode dar
samba, mas é só.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre
em Administração
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