domingo, 24 de abril de 2016

Tchau querida

            O brasileiro mesmo sendo atropelado pela jamanta da realidade. Ainda zonzo para ver o número da placa. Mesmo assim, não perde a oportunidade de ser um gozador, um debochado. Não importa as circunstâncias, o brasileiro está sempre pronto para sacar uma piada. Ele tem o “timing” exato, aliás.
            O título deste artigo traduz bem o que estou falando - como no caso recente do Fla-Flu na votação do impeachment. Apesar da população se encontrar atônita, perplexa e desesperançada num país à deriva e à espera que algo aconteça, pouco importa.
            Vi de tudo na sessão da Câmara que autorizou o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Não só o deboche criativo de “Tchau querida” disparado por vários parlamentares, como também, mensagens despropositadas de gratidão por estarem participando daquele momento grandioso, do tipo: Pela nação evangélica. Pelos maçons do Brasil. Pelo meu neto Gabriel. Pela minha esposa Mariana. Em homenagem ao meu pai... e por aí vai.
            Esse comportamento passa ser corrente para se conseguir transitar no cotidiano da vida de quase todo brasileiro. O jeito gozador do brasileiro é a síntese do seu caráter e se tornou uma estratégia que se espalhou pela sociedade. No deboche da crise atual, as redes sociais e nos shows de humor têm sempre presença marcante, principalmente na imitação burlesca dos protagonistas do país do pixuleco, fome, falta de instrução, infra estrutura precária, impostos astronômicos e queda no crescimento.
            Seria difícil algum de nós ou mesmo um estrangeiro que vive nesta terra não fazer parte do tal jeito debochado. E a melhor maneira de estudá-lo é vivenciar o mundo da rua, das amizades, dos negócios. Basta dialogar com o povo para se obter dados riquíssimos sobre esse fenômeno jocoso.
            Alguns sociólogos pátrios apontam a gozação, o deboche e a malandragem como um modo profundamente original e brasileiro de se viver. E mais: democratizou, abrasileirou, miscigenou como ninguém esse poderoso meio de comunicação.
            Interessante: e, quanto maior a crise, mas as pessoas buscam o consolo (ou a desforra) no riso. Para os criadores da sátira política é um prato cheio. Nada escapa ao humor, que vai da crítica à polarização ideológica.
            Como diz o humorista: O povo brasileiro tem espírito de porco. Por pior que esteja a situação, ele faz piada.


                                                              LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                   lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                                        Advogado e mestre em Administração

           

            

Nenhum comentário:

Postar um comentário