segunda-feira, 27 de abril de 2015

O shopping da Câmara Federal

       É complicado você acordar cheio de autoestima, sentindo-se encorajado e de bem com a vida, e de repente dar de cara com a notícia de que a Câmara Federal está preste a construir o seu Shopping Center, ao custo estimado de R$ 1 bilhão.
            Nesse empreendimento serão construídos cafés, lojas, agências bancárias, praça de alimentação, estacionamento subterrâneo com mais de 4000 vagas. É bom que se diga que essa ideia ridícula e bizarra, pra não dizer outras coisas piores, foi promessa de campanha do presidente Eduardo Cunha. É como se ele vestisse o terno do apresentador Silvio Santos e saísse atirando aviõezinhos de dinheiro para o ar.
 Ah, sim: a justificativa oficial é de que os deputados, que têm dois meses de férias e passam a maior parte da semana longe da capital, andam sem espaço para trabalhar. Por isso, todos terão direito a trocar os gabinetes atuais, com área média de 40 m², por salas mais confortáveis, com 60 m².  Sem embromação, é o tipo de derrapagem e deslize a que estamos sujeitos. Ou melhor, triste retrato da visão e prática tupiniquim de nossa classe política.
Com todo o respeito devido ao universo das boas intenções: perdoem-me. É preciso ser um cego, um idiota ou completo alienado da realidade para pôr em prática essa vergonheira. Tudo isso é lamentável, mas não é trágico: é grotesco!
Tem mais: Eduardo Cunha também parece insatisfeito com o plenário da Câmara, onde os presidentes da República tomam posse e em que Ulisses Guimarães promulgou a nossa Constituição. Seu projeto inclui a construção de um “plenário alternativo” com 700 lugares. Como a casa só dispõe de 513 deputados, quem sabe se já não estão arquitetando alguma emenda com vista a ampliar o número de parlamentares na próxima eleição.
Como não bastasse, o presidente da Câmara já declarou que “ninguém vai fazer shopping com dinheiro público”. O jornal oficial da Casa, entretanto, reconheceu que o modelo de parceria público-privada só deve cobrir “parte do custo do investimento”.
Há algo de desdém nessa visão. É preciso agir. Não dá mais para repaginar ou colocar curativos nesse tipo de atitude desafortunada. Levando-nos, irremediavelmente, asseverar que um dos bons fundamentos do cristianismo é amar o pecador, não o pecado. Fiel à tradição, os nossos políticos amam é o pecado mesmo.
Infelizmente, ainda não vislumbro um cenário auspicioso para o nosso País, mas a continuidade da mediocridade aviltante dos nossos líderes políticos.

                                                                                                                                                                                                                                           
                                                                 LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                 lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                                   Advogado e mestre em Administração

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