domingo, 12 de abril de 2015

Maioridade Penal

       Como alguns leitores escreveram me indagando sobre essa questão, volto ao tema. Na semana passada a Câmara aprovou, na Comissão de Constituição e Justiça, a proposta que muda a Constituição para permitir a prisão de adolescentes infratores com mais de 16 anos.
            Um deputado federal, num infeliz arroubo, e com a ligeireza de um comentarista esportivo, declara que essa é a solução para atenuar/acabar com a violência. Esse político parece ter perdido o eixo. Mas, mais interessante do que explicar, foi dizer que a sociedade clama por tal providência. Não sejamos hipócritas! Há o ódio desinformado, raivoso, agressivo. A sociedade clama que se dê uma basta com a violência, de um modo geral.
            Não vamos nos enganar: dados do Ministério da Justiça mostram que os menores de 18 anos são responsáveis por apenas 0,5% (frise-se: 0,5%) dos homicídios no País. Ora, os defensores da tese da redução da maioridade penal devem se preocupar com os outros vilões do crime que representam 99,5%.  É óbvio que não é por aí que se enfrentará o problema.
            Didático e categórico, como sempre, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, alerta que a eventual mudança na Constituição pode “dar uma vã esperança à sociedade”, que anda amedrontada pela criminalidade. E questiona: “Será que o conserto está na redução da maioridade penal?”. Ele mesmo responde: “O recolhimento de menores a esses estabelecimentos não resolve o problema. Não há recuperação neles”. É um caso de falácia lógica.
            Chega de verborragia. Aumentar a população prisional, num sistema reconhecidamente falido, é tomar essa gente piores e gerar ainda mais criminalidade no País.
Por sinal, o Brasil é o quarto em população carcerária, atrás de EUA, China e Rússia. São 550 mil pessoas, mais do que o triplo do que havia duas décadas atrás. Quase 200 mil são presos provisórios, não deveriam estar na cadeia. Pergunto: Alguém aí está se sentindo mais seguro com tanto encarceramento?
É necessário, sim, acabar com precariedade dos serviços públicos, através de ações preventivas, reformulação das polícias e do sistema penitenciário, como também, melhoria das casas de internação de adolescentes infratores e da reforma de nossa Legislação Penal.
Colocando a questão sem firulas. Eis que é inequívoco e verossímil o fato de que a enorme desigualdade social brasileira, com amplos contingentes de miseráveis sem perspectivas de melhorias, é que leva essas crianças já nascerem condenadas à prostituição e ao narcotráfico.
No Brasil, não existe mea-culpa. A culpa é sempre dos outros, no caso aqui são os adolescentes. Tenha a santa paciência!


                                                         LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                         lincoln.conultoria@hotmail.com
                                                           Advogado e mestre em Administração

            

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