E
não há aí nenhum exagero. Se você é brasileiro, vive no Brasil e não desfruta
de privilégios, é muito provável que já tenha ouvido alguém dizer que, se
tivesse oportunidade, iria embora daqui o mais breve possível.
É vero. Um dos principais motivos
para isso é a má distribuição de renda do Brasil. Sempre estivemos entre os
países onde a renda é mais concentrada, chegando mesmo a ocupar, por volta de
1990, o pior lugar do ranking, quando ficamos praticamente empatados com Serra
Leoa. Apesar da melhoria ocorrida em anos mais recentes, ainda estamos entre os
países em pior situação. Haiti, Namíbia, Paraguai, República Centro-Africana e
Guatemala são alguns dos nossos companheiros no grupo dos mais desiguais.
Com o avanço da idade, ter ilusões
torna-se pecado imperdoável, pois não há mais o atenuante da juventude. Fica no
terreno da insanidade, portanto, imaginar que o Governo Federal está
trabalhando para acabar com a nossa desigualdade na distribuição de renda. É de
um surrealismo tupiniquim para ninguém botar defeito.
Não precisa ser um craque com estudo
na Sorbonne - se arvorando como intelectual - para não reconhecer que são
vários os instrumentos sociais usados para manter a desigualdade de renda e, no
caso, a educação é um deles. Vejamos como isso ocorre. No Brasil, a duração e a
qualidade da educação recebida por uma criança ou um jovem dependem,
infelizmente, da renda familiar: quanto menor a renda, pior e mais curta é a
educação escolar recebida; quanto maior a renda, melhor e mais longa. Prova
disso é a evasão escolar antes do término do ensino fundamental, que atinge, em
média, cerca de 30% dos jovens, é superior a 90% entre os mais pobres. E,
claro, recebendo formação escolar muito precária.
É assertivo ao sustentar que o
sistema escolar brasileiro está sendo usado para perpetuar as desigualdades
econômicas e realimentar o perverso círculo vicioso: baixa renda; baixa
escolaridade dos dependentes; baixa renda destes no futuro.
Para romper esse círculo vicioso, é
necessário melhorar a qualidade da educação pública, reduzir as taxas de evasão
escolar e propiciar um sistema educacional mais igualitário, que faça com que a
educação recebida por uma criança ou um jovem não dependa de sua condição
econômica.
Reservo estas últimas para afirmar
que até hoje nosso País trata a educação como item de luxo, e não como a
principal política pública do Estado. Ou superamos essa mediocridade ou nunca
passaremos de um país que jogou fora seu futuro. Tá aí um bom exemplo: mais de
meio milhão de jovens tiraram nota zero no Enem de 2014.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre
em Administração
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