domingo, 1 de fevereiro de 2015

A falta de água

       Volto hoje ao tema que tratei em alguns artigos, e que agora continua presente como nunca: a falta de água. Está em jogo uma das atribuições mais básicas do Estado que é o bem-estar, ou melhor, a sobrevivência do cidadão.
            É uma situação inadmissível. Mormente quando se sabe que o Brasil tem uma posição privilegiada no mundo: 13,8% da água doce está aqui. O problema, falando francamente, é que o governo (federal e estadual) tergiversou e evitou reconhecer a escassez de água. Causando, com isso, não apenas os solos esturricados das represas, mas também uma administração pública decrépita, imprevidente e ineficaz. Não à toa, a consciência, no fundo, registra e dói.
            É sério. Na região metropolitana de São Paulo, especialistas no assunto dizem que está na hora de sair da “zona de conforto”, buscando novas maneiras de encarar (e financiar) problemas que afetam serviços essências, como a falta de água, mas que costumam ficar no subterrâneo das prioridades políticas. O cenário terrível é de provável esgotamento do sistema. Se a água não acabar em março, acaba em agosto.
            O governo (federal e estadual), por sua vez, não pode atribuir a ninguém a herança maldita de sua própria incúria. Pois, além da falta de investimentos em novas represas, tem outros fatores que concorrem para a escassez de água, como a desatenção com as condições à vitalidade dos nossos rios, à destruição das matas ciliares, à poluição das águas e à ausência de esgotamento sanitário e tratamento de esgotos.
            Uma coisa bem brasileira, é que os nossos governantes continuam a tomar decisões de afogadilho, chegando até a mediocridade, ao ponto de lançar a sorte dos cidadãos e da economia de São Paulo e do Brasil ao milagre dos céus para compensar anos de inépcia, negligência e demagogia.
            Com a devida vênia, temos que reconhecer que a nossa administração pública é ultrapassada, sem compromisso com a produtividade e planos de longo prazo. Prefere-se em geral uma grande obra, sempre atrasada, ao trabalho paciente e meticuloso de reduzir desperdícios, descaso notório pela carência de indicadores de eficiência de políticas públicas.
            Isso vem à lembrança de uma velha anedota que, ao criar o mundo, Deus reservou para o Brasil um lugar paradisíaco, farto em riquezas naturais e livres de terremotos e vulcões. Um anjo reclamou que seria injustiça destinar tantas dádivas a um só povo. Ele respondeu: “Espere para ver os políticos que eu vou botar lá”.
            O consolo é que tais governantes terão que prestar contas disso – talvez não apenas no tribunal das urnas.

                                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                        lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                          Advogado e mestre em Administração

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