Volto
hoje ao tema que tratei em alguns artigos, e que agora continua presente como
nunca: a falta de água. Está em jogo uma das atribuições mais básicas do Estado
que é o bem-estar, ou melhor, a sobrevivência do cidadão.
É uma situação inadmissível.
Mormente quando se sabe que o Brasil tem uma posição privilegiada no mundo:
13,8% da água doce está aqui. O problema, falando francamente, é que o governo
(federal e estadual) tergiversou e evitou reconhecer a escassez de água.
Causando, com isso, não apenas os solos esturricados das represas, mas também
uma administração pública decrépita, imprevidente e ineficaz. Não à toa, a
consciência, no fundo, registra e dói.
É sério. Na região metropolitana de
São Paulo, especialistas no assunto dizem que está na hora de sair da “zona de
conforto”, buscando novas maneiras de encarar (e financiar) problemas que
afetam serviços essências, como a falta de água, mas que costumam ficar no
subterrâneo das prioridades políticas. O cenário terrível é de provável
esgotamento do sistema. Se a água não acabar em março, acaba em agosto.
O governo (federal e estadual), por
sua vez, não pode atribuir a ninguém a herança maldita de sua própria incúria.
Pois, além da falta de investimentos em novas represas, tem outros fatores que
concorrem para a escassez de água, como a desatenção com as condições à
vitalidade dos nossos rios, à destruição das matas ciliares, à poluição das
águas e à ausência de esgotamento sanitário e tratamento de esgotos.
Uma coisa bem brasileira, é que os nossos
governantes continuam a tomar decisões de afogadilho, chegando até a
mediocridade, ao ponto de lançar a sorte dos cidadãos e da economia de São
Paulo e do Brasil ao milagre dos céus para compensar anos de inépcia,
negligência e demagogia.
Com a devida vênia, temos que
reconhecer que a nossa administração pública é ultrapassada, sem compromisso
com a produtividade e planos de longo prazo. Prefere-se em geral uma grande
obra, sempre atrasada, ao trabalho paciente e meticuloso de reduzir
desperdícios, descaso notório pela carência de indicadores de eficiência de
políticas públicas.
Isso vem à lembrança de uma velha
anedota que, ao criar o mundo, Deus reservou para o Brasil um lugar
paradisíaco, farto em riquezas naturais e livres de terremotos e vulcões. Um
anjo reclamou que seria injustiça destinar tantas dádivas a um só povo. Ele
respondeu: “Espere para ver os políticos que eu vou botar lá”.
O consolo é que tais governantes
terão que prestar contas disso – talvez não apenas no tribunal das urnas.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre
em Administração
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