sábado, 14 de fevereiro de 2015

Homicídio de negros e brancos

       É estarrecedor constatar que ser jovem e negro no Brasil é correr 2,5 vezes o risco de morte de um jovem branco. No Nordeste, esse perigo é de cinco vezes. Na Paraíba, acreditem, é de 13,4. Esse é o resultado do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade (IVJ 2014), pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública a pedido do governo federal, que deve divulgá-la brevemente.
            Com certeza: os números falam por si e não mentem. O estudo calculou taxas de homicídio ponderadas de jovens negros (pretos e pardos) e brancos, de 12 a 29 anos, a partir de dados de 2012 do Datsasus (banco de dados do Sistema Único de Saúde), em que o indicativo de cor é o alvo dessa ferida. A indignação, a revolta, o luto e as lágrimas se impõem.
            Ademais, nascer negro e pobre no Brasil é quase um carimbo de criminalidade. E, pior, significa ser um alvo propenso a perder a vida. Por isso que alguns entendidos no assunto dizem que o combate ao crime organizado tem que ser feito com inteligência e não criminalizando os moradores da periferia. Violência se combate com cidadania, políticas públicas e não com política de saturação das periferias.
            Um fato: a ampla maioria dos jovens luta diariamente por uma vida mais justa pelo trabalho duro. E a minoria dos jovens que acaba enveredando pelo caminho da criminalidade encurta a própria vida. O extermínio indireto de jovens negros e pobres via falta de política de saneamento, educação e saúde, o que acarreta em um processo de mortandade.
            A contradição é grande: as desigualdades se perpetuam e tornam os jovens menos abastados os maiores alvos da violência, mas sujeitos ao risco de morte, ao passo que - apesar de vítimas - são alvo de preconceito na sociedade.
Bem me lembro que a principal bandeira de Darcy Ribeiro, para esse estado de coisa, era a escola pública, com uma combinação de educação pública, universal, cosmopolita, moderna, técnica, com conteúdo popular na sociedade de massa. Tradição minha: estamos carecas de saber que nenhum país pode ser grande se não investir forte na educação.
            Espero que o presente estudo tenha como contribuição orientar políticas públicas para a juventude e que responda a campanhas e protestos dos movimentos negros e de direitos humanos que apontam para o fenômeno como um genocídio da juventude negra brasileira. Tais políticas públicas, a favor da juventude negra, podem acelerar não só a redução da desigualdade racial mas também a da violência no Brasil.
            Ah, só uma coisinha. Ainda há tempo para mudar, e quem sabe até pedir desculpas.

                                                   
                                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                        lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                          Advogado e mestre em Administração

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