É
estarrecedor constatar que ser jovem e negro no Brasil é correr 2,5 vezes o
risco de morte de um jovem branco. No Nordeste, esse perigo é de cinco vezes.
Na Paraíba, acreditem, é de 13,4. Esse é o resultado do Índice de
Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade (IVJ 2014), pesquisa
realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública a pedido do governo
federal, que deve divulgá-la brevemente.
Com certeza: os números falam por si
e não mentem. O estudo calculou taxas de homicídio ponderadas de jovens negros
(pretos e pardos) e brancos, de 12 a 29 anos, a partir de dados de 2012 do
Datsasus (banco de dados do Sistema Único de Saúde), em que o indicativo de cor
é o alvo dessa ferida. A indignação, a revolta, o luto e as lágrimas se impõem.
Ademais, nascer negro e pobre no
Brasil é quase um carimbo de criminalidade. E, pior, significa ser um alvo
propenso a perder a vida. Por isso que alguns entendidos no assunto dizem que o
combate ao crime organizado tem que ser feito com inteligência e não
criminalizando os moradores da periferia. Violência se combate com cidadania,
políticas públicas e não com política de saturação das periferias.
Um fato: a ampla maioria dos jovens
luta diariamente por uma vida mais justa pelo trabalho duro. E a minoria dos
jovens que acaba enveredando pelo caminho da criminalidade encurta a própria
vida. O extermínio indireto de jovens negros e pobres via falta de política de
saneamento, educação e saúde, o que acarreta em um processo de mortandade.
A contradição é grande: as
desigualdades se perpetuam e tornam os jovens menos abastados os maiores alvos
da violência, mas sujeitos ao risco de morte, ao passo que - apesar de vítimas
- são alvo de preconceito na sociedade.
Bem
me lembro que a principal bandeira de Darcy Ribeiro, para esse estado de coisa,
era a escola pública, com uma combinação de educação pública, universal,
cosmopolita, moderna, técnica, com conteúdo popular na sociedade de massa.
Tradição minha: estamos carecas de saber que nenhum país pode ser grande se não
investir forte na educação.
Espero que o presente estudo tenha
como contribuição orientar políticas públicas para a juventude e que responda a
campanhas e protestos dos movimentos negros e de direitos humanos que apontam
para o fenômeno como um genocídio da juventude negra brasileira. Tais políticas
públicas, a favor da juventude negra, podem acelerar não só a redução da
desigualdade racial mas também a da violência no Brasil.
Ah, só uma coisinha. Ainda há tempo
para mudar, e quem sabe até pedir desculpas.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre
em Administração
Nenhum comentário:
Postar um comentário