segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Ataque à liberdade de imprensa

            Depois de ver e ler várias manifestações contra o massacre aos jornalistas do periódico satírico “Charlie Hebdo”, eu me pus a pensar: ora, se não há liberdade de expressão, de que modo podemos conhecer as idéias um dos outros? Eis porque sua liberdade depende da minha liberdade. Quanto maior a minha liberdade, maior a sua.
            Não surpreende que seja assim, uma vez que os revolucionários franceses do século XVIII perceberam isso. Em 1989, ao redigir a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, afirmaram que “a livre comunicação das idéias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem”. O mesmo princípio se revelaria dois anos depois, na Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que proibiu o Congresso de legislar contra a liberdade de imprensa.
            Quero deixar bem sublinhado: o maior bem de todos é a vida. Nenhuma sociedade ou religião pode aceitar algum tipo de agressão contra esse bem maior, sob qualquer argumento. Por isso faço figa e oração, se preciso, para que no Estado democrático, tudo seja discutível, falível, poder ser contestado e reformulado.
            Aprendi muito com os vários professores que passaram pela minha vida. Um deles me fez entender que talvez o maior dos princípios humanistas, o respeito ao próximo – independentemente do quão bizarro possa parecer seus costumes, aparência, orientação sexual e credo religioso.
            Não esqueçamos. O massacre ocorrido em Paris não tem nada a ver com religião. É ignorância, tirania e primitivismo puro por parte de muçulmanos psicopatas, assassinos e covardes. Uma coisa é ter valores individuais, que, claro, devem ser respeitado. Outra coisa, bem diferente, é sair por aí metralhando pessoas sempre que nos sentirmos ofendidos.
            Já dizia Albert Einstein, filósofo e pensador alemão: “Só há duas coisas infinitas no mundo. A primeira é o universo e a outra é a estupidez humana”. Igualmente, admito. Socializar um jornal satírico que dirige ataque que já são vítimas de uma islamofobia desenfreada nos EUA e na Europa é quase tão estúpida quanto justificar os atos de terror contra a publicação.
            Muito pertinente falar que foram Vontaires e Daumiers para que os franceses conquistassem o direito de expor suas opiniões e debochar dos poderosos sem temor. Foram mais de três séculos de intensas lutas internas e externas, milhares de cabeças cortadas em guilhotinas e incansáveis embates de idéias até o país conseguir absorver, consolidar e propagar valores que hoje compõem o cerne das democracias ocidentais.
            Há algo mais que gostaria de dizer: eu também sou “Charlie”.

                                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                        lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                          Advogado e mestre em Administração

                                   

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