Depois de ver e ler várias
manifestações contra o massacre aos jornalistas do periódico satírico “Charlie
Hebdo”, eu me pus a pensar: ora, se não há liberdade de expressão, de que modo
podemos conhecer as idéias um dos outros? Eis porque sua liberdade depende da
minha liberdade. Quanto maior a minha liberdade, maior a sua.
Não surpreende que seja assim, uma
vez que os revolucionários franceses do século XVIII perceberam isso. Em 1989,
ao redigir a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, afirmaram que “a
livre comunicação das idéias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do
homem”. O mesmo princípio se revelaria dois anos depois, na Primeira Emenda da
Constituição dos Estados Unidos, que proibiu o Congresso de legislar contra a
liberdade de imprensa.
Quero deixar bem sublinhado: o maior
bem de todos é a vida. Nenhuma sociedade ou religião pode aceitar algum tipo de
agressão contra esse bem maior, sob qualquer argumento. Por isso faço figa e
oração, se preciso, para que no Estado democrático, tudo seja discutível,
falível, poder ser contestado e reformulado.
Aprendi muito com os vários
professores que passaram pela minha vida. Um deles me fez entender que talvez o
maior dos princípios humanistas, o respeito ao próximo – independentemente do
quão bizarro possa parecer seus costumes, aparência, orientação sexual e credo
religioso.
Não esqueçamos. O massacre ocorrido
em Paris não tem nada a ver com religião. É ignorância, tirania e primitivismo
puro por parte de muçulmanos psicopatas, assassinos e covardes. Uma coisa é ter
valores individuais, que, claro, devem ser respeitado. Outra coisa, bem
diferente, é sair por aí metralhando pessoas sempre que nos sentirmos ofendidos.
Já dizia Albert Einstein, filósofo e
pensador alemão: “Só há duas coisas infinitas no mundo. A primeira é o universo
e a outra é a estupidez humana”. Igualmente, admito. Socializar um jornal
satírico que dirige ataque que já são vítimas de uma islamofobia desenfreada
nos EUA e na Europa é quase tão estúpida quanto justificar os atos de terror
contra a publicação.
Muito pertinente falar que foram
Vontaires e Daumiers para que os franceses conquistassem o direito de expor
suas opiniões e debochar dos poderosos sem temor. Foram mais de três séculos de
intensas lutas internas e externas, milhares de cabeças cortadas em guilhotinas
e incansáveis embates de idéias até o país conseguir absorver, consolidar e
propagar valores que hoje compõem o cerne das democracias ocidentais.
Há algo mais que gostaria de dizer:
eu também sou “Charlie”.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre
em Administração
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