segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Despedida de Sarney

       Tive oportunidade de assistir alguns trechos do discurso de Sarney se despedindo do Congresso Nacional. Estufa-se e se envaidece ao comemorar o recorde de longevidade política: “Eu me tornei o político mais longevo (60 anos) da história do País. Inclusive consegui passar na frente do Visconde de Abaeté, que tinha 58 anos de vida pública”.
            Há muito mais a dizer sobre o político Sarney, e a história certamente dirá. As causas são múltiplas e vão desde os equívocos e barbeiragens da política e da economia (como presidente) à aposta redobrada no modelo do presidencialismo de condomínio, por meio de cessão de benesses do governo ao que há de pior na política brasileira.
            Como se sabe, um dos aspectos mais controvertidos do mandato de José Sarney na Presidência da República foi o rateio de concessões de radiodifusão durante as votações da Assembleia Nacional Constituinte. De 15 de março de 1985 a 5 de outubro de 1988, quando foi promulgada a Constituição, Sarney outorgou 1028 concessões. O número ganha ainda mais expressão quando comparado ao de emissoras de rádio e tevê distribuídas pelo Executivo entre 1934 a 1979: 1483 concessões.
Não à toa, o controle midiático é uma vertente forte do poder do Grupo Sarney – algo que o resultado da eleição, obviamente, não consegue minar. Em um mapeamento feito no primeiro semestre de 2014 identificou pelo menos 37 tevês e rádios AM e FM em nome de parentes diretos de José Sarney. A TV Mirante tem uma audiência de 5 milhões de pessoas no Maranhão. O estado tem 6,85 milhões de habitantes. Se considerarmos o alto índice de analfabetismo no Maranhão, a tevê se consolida, sim, como a fonte primária de informações para a grande maioria dos maranhenses.
            Algum espanto? Tem mais. O povo desse estado está de saco cheio (desculpe o palavreado), não aguenta mais e vai para a rua, mesmo, para explodir. No centro histórico de São Luis, o taxista desfiou um rosário de lamúrias. “O maranhense se vende por lata de óleo. E esse homem (Sarney) não morre. Isso só acaba se morrer. E o pior é que, quando não é ele, são outros dele. Tenho fé de que um dia isso aqui muda. Só não sei é se vou estar vivo pra ver”.
            Por outro lado, contrapondo, com a voz mansa e trejeitos que remetem ao personagem Odorico Paraguaçu, Sarney afirma que em seu mandato de presidente “ocorreu uma distribuição de renda que até então não tinha havido no Brasil”. E conclui: “Até hoje passo na rua e alguém me diz: foi no seu tempo que eu comprei meu liquidificador”. Pergunto: Existe receita para esse desatino? Não, com certeza.
            Ainda bem. Já podemos dizer “tchau e bença” para essa oligarquia Sarney. Será?

                                                             LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                             lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                               Advogado e mestre em Administração

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