Tive
oportunidade de assistir alguns trechos do discurso de Sarney se despedindo do
Congresso Nacional. Estufa-se e se envaidece ao comemorar o recorde de
longevidade política: “Eu me tornei o político mais longevo (60 anos) da
história do País. Inclusive consegui passar na frente do Visconde de Abaeté,
que tinha 58 anos de vida pública”.
Há muito mais a dizer sobre o
político Sarney, e a história certamente dirá. As causas são múltiplas e vão
desde os equívocos e barbeiragens da política e da economia (como presidente) à
aposta redobrada no modelo do presidencialismo de condomínio, por meio de
cessão de benesses do governo ao que há de pior na política brasileira.
Como se sabe, um dos aspectos mais
controvertidos do mandato de José Sarney na Presidência da República foi o
rateio de concessões de radiodifusão durante as votações da Assembleia Nacional
Constituinte. De 15 de março de 1985 a 5 de outubro de 1988, quando foi
promulgada a Constituição, Sarney outorgou 1028 concessões. O número ganha
ainda mais expressão quando comparado ao de emissoras de rádio e tevê
distribuídas pelo Executivo entre 1934 a 1979: 1483 concessões.
Não
à toa, o controle midiático é uma vertente forte do poder do Grupo Sarney –
algo que o resultado da eleição, obviamente, não consegue minar. Em um
mapeamento feito no primeiro semestre de 2014 identificou pelo menos 37 tevês e
rádios AM e FM em nome de parentes diretos de José Sarney. A TV Mirante tem uma
audiência de 5 milhões de pessoas no Maranhão. O estado tem 6,85 milhões de
habitantes. Se considerarmos o alto índice de analfabetismo no Maranhão, a tevê
se consolida, sim, como a fonte primária de informações para a grande maioria
dos maranhenses.
Algum espanto? Tem mais. O povo
desse estado está de saco cheio (desculpe o palavreado), não aguenta mais e vai
para a rua, mesmo, para explodir. No centro histórico de São Luis, o taxista
desfiou um rosário de lamúrias. “O maranhense se vende por lata de óleo. E esse
homem (Sarney) não morre. Isso só acaba se morrer. E o pior é que, quando não é
ele, são outros dele. Tenho fé de que um dia isso aqui muda. Só não sei é se
vou estar vivo pra ver”.
Por outro lado, contrapondo, com a
voz mansa e trejeitos que remetem ao personagem Odorico Paraguaçu, Sarney
afirma que em seu mandato de presidente “ocorreu uma distribuição de renda que
até então não tinha havido no Brasil”. E conclui: “Até hoje passo na rua e
alguém me diz: foi no seu tempo que eu comprei meu liquidificador”. Pergunto: Existe
receita para esse desatino? Não, com certeza.
Ainda bem. Já podemos dizer “tchau e
bença” para essa oligarquia Sarney. Será?
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado
e mestre em Administração
Nenhum comentário:
Postar um comentário