No
último domingo, enquanto passeava com a minha cachorrinha Baby pela calçada da
praia de Manaira, escutei um pedaço de conversa de dois senhores. O primeiro
comentou: “Até quando vamos dar um basta nesse trânsito caótico na cidade?”. O
segundo respondeu: “Isso só ocorrerá no dia em que os nossos gestores políticos
tiverem coragem e competência para enfrentá-lo”.
Como Baby quis continuar o passeio,
tive de interromper minha bisbilhotice. Mas segui pensando sobre as razões que
levam os referidos cidadãos a especularem sobre a problemática do trânsito que
diariamente nos infernizam.
Temerário fazer esse comentário
nesse espaço tão curto. Porém, de forma breve, devo dizer que, nas últimas
décadas, observa-se como o automóvel passou a dominar as ruas, com o pedestre e
o transporte público sendo gradativamente desvalorizados.
É estarrecedor constatar que algumas
das nossas cidades não estão longe do colapso, resultado da inexistência de
políticas integradas de transporte, uso e ocupação do solo. Os efeitos
colaterais do modelo que adotamos, centrado no carro, são visíveis: degradação
de meio ambiente, caos no trânsito, perda de produtividade, número crescente de
mortes no trânsito e piora na qualidade de vida. Tem mais: a circulação urbana
no Brasil é insegura e morosa demais, consequência de quase um século de altos
recursos mal investidos.
No plano doméstico, vejo com
satisfação às medidas de engenharia que estão em curso para atenuarem os
problemas de congestionamentos do trânsito em nossa João Pessoa. Não é fácil. E a razão é simples: a frota de veículos no
País não para de crescer, como um aumento assustador de 100% em dez anos (2002
a 2012), segundo documento produzido pelo Ministério do Meio Ambiente. Hoje, o
índice de motorização é de 66,2 veículos por 100 habitantes. É insustentável e
impossível, sob o ponto de vista físico, aumentar a infraestrutura viária para
absorver proporcionalmente a esse crescimento.
Contam-se nos dedos de uma mão as
cidades de médio e de grande porte que não tenham problemas com o trânsito. A
solução, para isso, passa pela política de rodízio, de estacionamento, fim de
subsídios ao combustível e pedágio urbano. Essas medidas, por sua vez, devem
estar atreladas com o investimento contínuo em transporte público de qualidade
e da requalificação do espaço público para o pedestre e para o ciclista.
Só quero dizer mais uma coisa: a
mobilidade é a chave para cidades com mais qualidade de vida e menos
desigualdades. O resto é teoria.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas
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