Pode
parecer uma miudeza ou uma questão banal a estratégia das agências de
publicidade utilizar crianças para vender de brinquedos a poupanças bancárias -
incentivando o consumismo infantil - mas, felizmente, não é!
Dito isso, direi mais. O que se
verifica é um completo desrespeito à norma. Pois, recentemente, foi publicada a
resolução nº. 163 do Comanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente) que passou a considerar abusiva toda e qualquer publicidade ou
comunicação mercadológica dirigidas ao público infantil com menos de 12 anos.
Não é novidade que a publicidade e a
comunicação mercadológica que se dirigem diretamente às crianças, além de
ilegais, são antiéticas e imorais. Aproveitam-se da peculiar fase de
desenvolvimento dos pequenos, justamente quando não conseguem entender o
caráter persuasivo das mensagens ou mesmo diferenciar o conteúdo de
entretenimento do comercial.
Há poucos dias li sobre o
documentário “Criança, a alma do negócio”, dirigido por Estela Renner, onde uma
mulher, à frente de um grupo de crianças, fala em voz alta: “Aqui tem dois
papéis, em um está escrito brincar, e em outro comprar”. Mal ela termina de
falar, coloca os papéis no chão, e as crianças se debruçam para escolher qual
dos dois elas mais gostam: 3 colocam a mão sobre o papel escrito comprar, 2
sobre o brincar.
O filme mostra uma realidade
chocante em que muitos não estão atentos: a sociedade em que vivemos, por meio
principalmente da publicidade, criou uma geração de crianças fanáticas por
consumo, que estão deixando para trás aspectos importantes da infância para se
dedicar a um hábito que antes era próprio dos adultos.
Para o mercado publicitário, é muito
mais fácil fixar uma marca na cabeça de uma criança do que na de um adulto,
então vale tudo para chamar a atenção dos pequenos: animações, atores mirins,
jogadores de futebol, apresentadoras etc. De bonecas a plano de celular, tudo
deve focar a criança.
É sério. Estudiosos ligam a prática
de assistir muita televisão durante a infância ao grande número de casos de
obesidade infantil, ao estímulo à violência, consumismo e perda do potencial
criativo das crianças. Tudo isso está ligado a um mercado milionário e
perverso: o da publicidade infantil. Cheio de gracinhas e vazio de conteúdo. Tudo
esperteza, claro.
De qualquer forma e sorte, é bom
todo mundo ficar alerto e esperto contra o assédio às nossas crianças. Quem não
gostar, que se dane?
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração
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