segunda-feira, 9 de junho de 2014

País do mais ou menos

       Prometi para mim mesmo que não voltaria mais a falar sobre desorganização e falta de planejamento da Copa do Mundo no Brasil. Infelizmente vou ter que quebrar essa promessa, diante de uma situação que mostra a distância entre a realidade e a versão oficial.
            Pois é. Estive recentemente na cidade de Cuiabá, a menos de nove dias do início da Copa, para cumprir uma agenda de trabalho. Fiquei surpreso pela minha decepção: o lugar que está prestes a receber uma leva de até 50.000 torcedores colombianos, australianos e chilenos sem que as obras fundamentais – excetuando a do estádio – estejam prontas.
            Misericórdia, uma verdadeira bagunça! Logo de cara deparei-me com o aeroporto tomado por tapumes, esteiras de bagagens ainda sendo montadas, andaimes com trabalhadores pendurados, pintando paredes e instalando vidros e esquadrias. Já os fingers (que substitui as escadarias) com poucas perspectivas de funcionamento imediato.
            Deslocando-me ao centro da cidade, no trajeto que passa pelo estádio que vai promover o espetáculo da Copa, o que mais se via pelas ruas eram placas de desvio, entulho e montanhas de barro acumulado pelas retroescavadeiras, lixos espalhados pra tudo que era canto, asfalto aplicado pela metade, e por aí vai. A resposta para esse descaso foi dada pelo secretário Maurício Guimarães, titular da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa): “Mas foi obra demais, excesso de trabalho. O Estado não estava preparado”. Acreditem: o cidadão teve sete anos para executar o projeto de obras!
            Como se vê, retrato da comicidade decorrente da desorganização. Como bem definiu o meu amigo Cordeiro, “o Brasil é o País do mais ou menos. Nada do que é feito aqui busca a excelência, é tudo mais ou menos”. “Nem a pau”, como diz a nossa garotada, as obras serão inauguradas a tempo. São próximas de zero as chances de isso ocorrerem. Nem mesmo apelando para reza forte, nem macumba com mil velas.
            Os brasileiros pagam o preço pela desorganização de seus governantes. E mais: a falta de planejamento é um simulacro da nossa mediocridade macunaimicamente tupiniquim. Se continuarmos ignorados e descrentes, seremos engolidos sem piedade pela nossa própria indignação.
            Noutro país, essa situação seria impossível e ridícula. É rir para não chorar. Ninguém poderia resumir melhor a realidade do que Romário, ou então, o deputado Romário de Souza Faria: “Já perdemos a Copa fora de campo. Agora só nos resta rezar para irmos bem lá dentro”.
            Depois da Copa do Mundo, é hora das autoridades fazerem um balanço, e firmarem o espírito crítico para fortalecer o País. E não adianta recorrer aos pensadores do Brasil para entender essa zorra.

                                                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                               lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                 Advogado e mestre em Administração
           

                                                       

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