Prometi
para mim mesmo que não voltaria mais a falar sobre desorganização e falta de
planejamento da Copa do Mundo no Brasil. Infelizmente vou ter que quebrar essa
promessa, diante de uma situação que mostra a distância entre a realidade e a
versão oficial.
Pois é. Estive recentemente na
cidade de Cuiabá, a menos de nove dias do início da Copa, para cumprir uma
agenda de trabalho. Fiquei surpreso pela minha decepção: o lugar que está
prestes a receber uma leva de até 50.000 torcedores colombianos, australianos e
chilenos sem que as obras fundamentais – excetuando a do estádio – estejam
prontas.
Misericórdia, uma verdadeira
bagunça! Logo de cara deparei-me com o aeroporto tomado por tapumes, esteiras de
bagagens ainda sendo montadas, andaimes com trabalhadores pendurados, pintando
paredes e instalando vidros e esquadrias. Já os fingers (que substitui as
escadarias) com poucas perspectivas de funcionamento imediato.
Deslocando-me ao centro da cidade,
no trajeto que passa pelo estádio que vai promover o espetáculo da Copa, o que
mais se via pelas ruas eram placas de desvio, entulho e montanhas de barro
acumulado pelas retroescavadeiras, lixos espalhados pra tudo que era canto,
asfalto aplicado pela metade, e por aí vai. A resposta para esse descaso foi
dada pelo secretário Maurício Guimarães, titular da Secretaria Extraordinária
da Copa do Mundo (Secopa): “Mas foi obra demais, excesso de trabalho. O Estado
não estava preparado”. Acreditem: o cidadão teve sete anos para executar o
projeto de obras!
Como se vê, retrato da comicidade
decorrente da desorganização. Como bem definiu o meu amigo Cordeiro, “o Brasil
é o País do mais ou menos. Nada do que é feito aqui busca a excelência, é tudo
mais ou menos”. “Nem a pau”, como diz a nossa garotada, as obras serão
inauguradas a tempo. São próximas de zero as chances de isso ocorrerem. Nem
mesmo apelando para reza forte, nem macumba com mil velas.
Os brasileiros pagam o preço pela
desorganização de seus governantes. E mais: a falta de planejamento é um
simulacro da nossa mediocridade macunaimicamente tupiniquim. Se continuarmos
ignorados e descrentes, seremos engolidos sem piedade pela nossa própria
indignação.
Noutro país, essa situação seria
impossível e ridícula. É rir para não chorar. Ninguém poderia resumir melhor a
realidade do que Romário, ou então, o deputado Romário de Souza Faria: “Já
perdemos a Copa fora de campo. Agora só nos resta rezar para irmos bem lá
dentro”.
Depois da Copa do Mundo, é hora das
autoridades fazerem um balanço, e firmarem o espírito crítico para fortalecer o
País. E não adianta recorrer aos pensadores do Brasil para entender essa zorra.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado
e mestre em Administração
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