Sei
que ouvir a conversa dos outros é coisa de abelhudo. Mas não me contive e
tentei não perder nada do que falavam dois jovens sobre a obrigatoriedade do
voto. Revoltado, um deles assim se expressou: “Pô, essa eleição é uma grande
enganação, puro circo, com todo respeito aos palhaços”. O outro interlocutor,
mais injuriado sobre tal exigência, disparou um palavrão que pode ser resumido
em três inconfundíveis letras “fdp”.
Fazer o quê? A verdade é que - se continuarmos
ignorados e descrentes - seremos engolidos sem piedade pela nossa própria
indignação. Infelizmente, a ficha ainda não caiu para aqueles que decidem os
rumos de nosso País.
Não obstante, depois das
manifestações de junho do ano passado, os parlamentares apresentaram uma PEC (Proposta
de Emenda à Constituição) que contempla 16 pontos. Um dos temas que ganhou
destaque na proposta foi o fim do voto obrigatório. O coordenador do colegiado,
deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), apóia o voto facultativo e avalia que o
cidadão tem o direito de escolher se quer votar ou não. E completa: “todos os
países desenvolvidos do mundo têm o voto facultativo”.
Nunca tantos brasileiros se disseram
contrários à obrigação de ir às urnas, imposição prevista no Artigo 14 da
Constituição. Segundo uma pesquisa do instituto Datafolha, divulgada
recentemente, 61% dos entrevistados discordam da regra. É uma rejeição inédita
desde que a pergunta começou a ser feita, em 1991. Não é só isso. Conforme o
levantamento, 57% dos eleitores não voltariam nas próximas eleições
presidências se não fossem obrigados – outro recordo. Gente que integra a
classe média tradicional brasileira, mais instruída.
A péssima imagem da nossa
representação política revela a feição paroquial da sociedade brasileira: invés
de uma sociedade sujeita, uma sociedade sujeitada. Por isso que há um
descrédito profundo de atingir o objetivo do “voto verde-amarelo”.
Os entusiastas do voto obrigatório
argumentam que a democracia é importante demais para ser opcional. O ato de
votar constitui, para eles, um dever, não um direito. Os contrários afirmam que
o sistema não é compatível com a liberdade que se espera de uma democracia
consolidada. Forçar o cidadão a votar desencoraja sua educação política.
Estudos apontam que não há relação
direta entre obrigatoriedade do voto e participação nas eleições. Mesmo onde há
maior comparecimento em razão da obrigatoriedade, votos brancos, nulos,
ausências e justificações mantêm padrões semelhantes ao das abstenções dos
países onde o voto é facultativo.
Por último: é na ignorância, no
cansaço e na descrença do voto obrigatório que os maus políticos apostam. E fim
de papo.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração
Nenhum comentário:
Postar um comentário