terça-feira, 6 de maio de 2014

Brasil-Argentina, amor e ódio

       Custei a acreditar que há 20 anos o Brasil era geralmente visto na Argentina apenas como a terra da praia, da água de coco, das curvilíneas mulatas, do carnaval e da selva amazônica. E da cachaça e da caipirinha. E da caipiroska. E da arquitetura de Oscar Niemeyer.
            Agora, além desses encantos, o Brasil ainda é visto pelos hermanos como uma liderança regional, com destaque nos foros internacionais, pelo seu crescimento industrial, pelo mercado de uma classe média ascendente, pelas associações empresariais fortes e pelas grandes obras de infraestrutura. Tem mais: os argentinos detestam reconhecer, mas amam os brasileiros e preferem derrotar os ingleses à nossa seleção brasileira.
            Essa percepção é registrada pelo escritor Ariel Palácios - brasileiro de ascendência argentino - em seu livro “Os argentinos” (Editora Contexto, 2013). Na sua incursão, diz que, apesar dos escândalos de corrupção em Brasília e do coronelismo em algumas regiões, os argentinos admiram dos políticos brasileiros a “arte de consenso”, em contraposição com o tradicional antagonismo que divide a Argentina há 200 anos.
            Nesse surto de sinceridade, ele revela quatro verdades, talvez desconhecidas pelos brasileiros. Vejam: primeiro, não existem publicidades na Argentina ironizando os brasileiros; segundo, os produtos brasileiros são bem-vistos pelos consumidores argentinos; terceiro, os argentinos amam as brasileiras.  Eles as consideram “vulcões sexuais” e “mulheres de verdade”, donas de glúteos exuberantes e protagonistas de coreografia delirantes no leito; e quarto, de quebra, os argentinos fazem melhores piadas de argentinos do que nós.
            Lendo-o, podemos conferir que essas peculiares relações bilaterais são analisadas com ironias entre acadêmicos brasileiros e argentinos com a seguinte frase: “os brasileiros amam detestar a Argentina... e os argentinos odeiam ter que amar tanto o Brasil”.
            A propósito: houve um tempo em que os argentinos possuíam um novo temor: o de serem absorvidos economicamente pelo Brasil, transformando-se, como alertava em 1995 o empresário Franco Macri, no “vigésimo oitavo brasileiro”.
            Não foi à toa que em 2009 a principal revista semanal do país, Notícias, publicou com destaque uma matéria com o título “Por que não podemos ser como o Brasil?”, onde se exaltava a capacidade de adaptação dos brasileiros, em contrário ao conformismo argentino.
            Enfim, o autor do referido livro consegue cumprir seus objetivos e ainda oferece ao leitor uma narrativa fluída, informativa e gostosa de acompanhar.

                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                    lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                     Advogado e Administrador de Empresas

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