Custei
a acreditar que há 20 anos o Brasil era geralmente visto na Argentina apenas
como a terra da praia, da água de coco, das curvilíneas mulatas, do carnaval e
da selva amazônica. E da cachaça e da caipirinha. E da caipiroska. E da
arquitetura de Oscar Niemeyer.
Agora, além desses encantos, o
Brasil ainda é visto pelos hermanos como uma liderança regional, com destaque
nos foros internacionais, pelo seu crescimento industrial, pelo mercado de uma
classe média ascendente, pelas associações empresariais fortes e pelas grandes
obras de infraestrutura. Tem mais: os argentinos detestam reconhecer, mas amam
os brasileiros e preferem derrotar os ingleses à nossa seleção brasileira.
Essa percepção é registrada pelo escritor
Ariel Palácios - brasileiro de ascendência argentino - em seu livro “Os argentinos”
(Editora Contexto, 2013). Na sua incursão, diz que, apesar dos escândalos de
corrupção em Brasília e do coronelismo em algumas regiões, os argentinos
admiram dos políticos brasileiros a “arte de consenso”, em contraposição com o
tradicional antagonismo que divide a Argentina há 200 anos.
Nesse surto de sinceridade, ele revela
quatro verdades, talvez desconhecidas pelos brasileiros. Vejam: primeiro, não
existem publicidades na Argentina ironizando os brasileiros; segundo, os produtos
brasileiros são bem-vistos pelos consumidores argentinos; terceiro, os
argentinos amam as brasileiras. Eles as
consideram “vulcões sexuais” e “mulheres de verdade”, donas de glúteos
exuberantes e protagonistas de coreografia delirantes no leito; e quarto, de
quebra, os argentinos fazem melhores piadas de argentinos do que nós.
Lendo-o, podemos conferir que essas
peculiares relações bilaterais são analisadas com ironias entre acadêmicos
brasileiros e argentinos com a seguinte frase: “os brasileiros amam detestar a
Argentina... e os argentinos odeiam ter que amar tanto o Brasil”.
A propósito: houve um tempo em que
os argentinos possuíam um novo temor: o de serem absorvidos economicamente pelo
Brasil, transformando-se, como alertava em 1995 o empresário Franco Macri, no
“vigésimo oitavo brasileiro”.
Não foi à toa que em 2009 a
principal revista semanal do país, Notícias, publicou com destaque uma matéria
com o título “Por que não podemos ser como o Brasil?”, onde se exaltava a
capacidade de adaptação dos brasileiros, em contrário ao conformismo argentino.
Enfim, o autor do referido livro
consegue cumprir seus objetivos e ainda oferece ao leitor uma narrativa fluída,
informativa e gostosa de acompanhar.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas
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