Li com certa surpresa, para não
dizer espanto, a reportagem “A Divina Tragédia de Belchior”, publicada por uma
dessas revistas de circulação nacional, em que mostra o lado triste e
constrangedor que passa atualmente esse grande artista da MPB.
Em algum momento da minha juventude,
deixei de lado um pouco os estudos para curtir a poesia musical de Belchior.
Recordo-me vivamente de seu bigode grosso e de sua cabeleira preta esvoaçante.
Trazendo na bagagem canções como “Tudo Outra Vez”, “Apenas Um Rapaz Latino
Americano”, “Divina Comédia Humana”, “Como Nossos Pais”, e outras pérolas
nostálgicas.
Basta correr os olhos sobre a referida
reportagem para vê que aquele sujeito discreto e boa pinta, dedicado,
inteligente, versátil e seletivo nas canções que produzia, agora está no fundo
do poço. “Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol”, como bem expressa
a sua cantiga. Não pode sair em público, pois é procurado pela polícia. Pesa contra
Belchior dois mandados de prisão pelo não pagamento de pensões alimentícias.
Outro processo trabalhista contra ele no valor de R$ 1 milhão. Suas contas
bancárias estão bloqueadas, e os imóveis que tinha estão comprometidos. Sem
dinheiro, vive abrigado em instituições de caridade ou morando de favor na casa
de fãs.
Na minha opinião, razoavelmente
correta, a vida nunca é como gostaríamos que fosse, mas acredito profundamente
que podemos sempre partir da realidade, seja ela fácil ou difícil, alegre ou
triste, e tentar fazer mais e melhor. Catastrofismo? Jamais.
Ao contrário do que muitos imaginam,
uma aparência de sucesso profissional ou bem-estar social não é sinônimo de
felicidade interior. A cultura do sucesso cria grandes desequilíbrios e
fragilidades que frequentemente se traduzem em agressividades ou desprezo pela
vida, e raramente deixam margem para uma verdadeira realização pessoal.
Acredito que essa vida tresloucada
que Belchior ora está enfrentando, é porque ele ainda não encontrou o
verdadeiro sucesso. Para muitos, o sucesso é ter poder, ter um bom carro, ter
um bom emprego, ter um bom casamento, ter muito dinheiro para gastar... Porém, sucesso
traduz-se de forma mais poética: é fazer aquilo que nos traz alegria, paz
interior e liberdade para fazer aquilo que nos convém e não aquilo que os
outros esperam de nós.
Tanto que se diz, tanto que se fala,
tanto que se comenta, tanto que se propala, tanta futrica de um lado e de
outro, que a gente não sabe exatamente que levou o nosso Belchior a esse estado
de coisa. Importa é que ele volte ao mundo da música. Como sempre exaltou:
“Enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum modo de dizer não, eu canto”.
LINCOLN
CARTAXO DE LIRA
Advogado
e Administrador de Empresas
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