domingo, 2 de fevereiro de 2014

A Divina Tragédia



            Li com certa surpresa, para não dizer espanto, a reportagem “A Divina Tragédia de Belchior”, publicada por uma dessas revistas de circulação nacional, em que mostra o lado triste e constrangedor que passa atualmente esse grande artista da MPB.
            Em algum momento da minha juventude, deixei de lado um pouco os estudos para curtir a poesia musical de Belchior. Recordo-me vivamente de seu bigode grosso e de sua cabeleira preta esvoaçante. Trazendo na bagagem canções como “Tudo Outra Vez”, “Apenas Um Rapaz Latino Americano”, “Divina Comédia Humana”, “Como Nossos Pais”, e outras pérolas nostálgicas.
            Basta correr os olhos sobre a referida reportagem para vê que aquele sujeito discreto e boa pinta, dedicado, inteligente, versátil e seletivo nas canções que produzia, agora está no fundo do poço. “Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol”, como bem expressa a sua cantiga. Não pode sair em público, pois é procurado pela polícia. Pesa contra Belchior dois mandados de prisão pelo não pagamento de pensões alimentícias. Outro processo trabalhista contra ele no valor de R$ 1 milhão. Suas contas bancárias estão bloqueadas, e os imóveis que tinha estão comprometidos. Sem dinheiro, vive abrigado em instituições de caridade ou morando de favor na casa de fãs.
            Na minha opinião, razoavelmente correta, a vida nunca é como gostaríamos que fosse, mas acredito profundamente que podemos sempre partir da realidade, seja ela fácil ou difícil, alegre ou triste, e tentar fazer mais e melhor. Catastrofismo? Jamais.
            Ao contrário do que muitos imaginam, uma aparência de sucesso profissional ou bem-estar social não é sinônimo de felicidade interior. A cultura do sucesso cria grandes desequilíbrios e fragilidades que frequentemente se traduzem em agressividades ou desprezo pela vida, e raramente deixam margem para uma verdadeira realização pessoal.
            Acredito que essa vida tresloucada que Belchior ora está enfrentando, é porque ele ainda não encontrou o verdadeiro sucesso. Para muitos, o sucesso é ter poder, ter um bom carro, ter um bom emprego, ter um bom casamento, ter muito dinheiro para gastar... Porém, sucesso traduz-se de forma mais poética: é fazer aquilo que nos traz alegria, paz interior e liberdade para fazer aquilo que nos convém e não aquilo que os outros esperam de nós.
            Tanto que se diz, tanto que se fala, tanto que se comenta, tanto que se propala, tanta futrica de um lado e de outro, que a gente não sabe exatamente que levou o nosso Belchior a esse estado de coisa. Importa é que ele volte ao mundo da música. Como sempre exaltou: “Enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum modo de dizer não, eu canto”.
           

                                                                   LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                                                  lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                                             Advogado e Administrador de Empresas
                                                                                            
                                                                                          

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