segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Herança dos generais



            O regime militar foi um período desafortunado para uma geração em que se ouviu (e sentiu) os primeiros estalos da rachadura da liberdade democrática. Por outro lado, acho difícil alguém subestimar a honestidade pessoal de cada um que presidiu o País naqueles tempos bicudos. Vejamos.
            Para vocês terem uma ideia, quando Castelo Branco morreu num desastre de avião, verificaram os herdeiros que seu patrimônio limitava-se a um apartamento em Ipanema e umas poucas ações de empresas públicas e privadas.
            Já Costa e Silva, acometido por um derrame cerebral, recebeu de favor o privilégio de permanecer até o desenlace no palácio das Laranjeiras, deixando para a viúva a pensão de marechal e um apartamento em construção, em Copacabana.
            O gaúcho Garrastazu Médici dispunha, como herança de família, de uma fazenda de Gado em Bagé, mas quando adoeceu precisou ser tratado no Hospital  da Aeronáutica, no Galeão.
            Nessa linha, o Ernesto Geisel, antes de assumir a presidência da República, comprou o Sítio dos Cinamonos, em Teresópolis, que a filha vendeu para poder manter-se no apartamento de três quartos e sala, no Rio.
            Por último, João Figueiredo, depois de deixar o poder, não aguentou as despesas do Sítio do Dragão, em Petrópolis, vendendo primeiro os cavalos e depois a propriedade. Sua viúva, recentemente falecida, deixou um apartamento em São Conrado que os filhos agora colocaram à venda, ao que parece em estado de lamentável conservação.
            Goste-se ou não, é uma realidade. Essa reflexão deve ser avaliada de forma atenta e desapaixonada sobre os governantes que assumiram a presidência após o regime militar. Cheio de curvas sinuosas, entra governo, sai governo, a maldição continua. A cada dia, um escândalo diferente solta dos jornais. Em maior ou menor medida, as mazelas não são diferentes: corrupção, incapacidade administrativa, irresponsabilidade, carência de ética e moralidade, ignorância, ausência de transparência e falta de respeito ao cidadão.
            O articulista Carlos Chagas, figura de proa do nosso jornalismo político, sobre esse tema, afirma que os cinco generais-presidentes até podem ter cometidos erros, mas não se meteram em negócios escusos, não enriqueceram nem receberam benesses de empreiteiras beneficiadas durante seus governos.
            Por isso, me atrevo a concluir este texto com uma polêmica, bem a calhar, esse “padrão de governar” já passou a ser um cacoete profissional da política brasileira.


                                                                      LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                      lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                                              Advogado e Administrador de Empresas

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