segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Piada de salão



            Esperava minha consorte na saída de um shopping da cidade, quando presenciei a seguinte conversa entre dois jovens: “Véio, os caras do mensalão foram presos. Quem diria, hein?”.
            Esse sentimento não é só dos jovens, mais de todos os brasileiros, honesto e trabalhador. Afinal, até então, a cadeia no Brasil não era lugar para políticos e empresários bem-sucedidos. Afinal, como discordar do ministro Joaquim Barbosa quando diz que, para ir preso no Brasil, “é preciso ser muito pobre e muito mal defendido”.
            Puxa! As prisões dos condenados no mensalão foram um imenso exemplo cívico. Segundo o meu amigo Cordeiro, com seu humor corrosivo, sobre esse acontecimento: “Além da prisão, foi um chute no saco dos políticos”. E foi mesmo.
            Porém, embora no frigir dos ovos, a política (com “p” minúsculo) continua a fazer bem à saúde. A coisa é tão boa que quem entra não quer sair, quem está fora quer entrar e quem saiu luta para voltar. Desesperadamente. Além disso, leva a democracia ficar manca quando o Estado oferece dinheiro público e acesso ao rádio e à TV para elegerem os “profissionais” da política. O povo brasileiro não merece isso!
            Vendo tudo isso, me rebelo: Deus, ou melhor: a Justiça, foi injusta em pôr na cadeia apenas os mensaleiros. Tem mais gente, e como tem, praticando todo tipo de estripulia de desvio ético que merecia estar preso. Ademais, a Justiça brasileira fez o básico ao cumprir a lei e colocar na cadeia os antigos arautos da moralidade.
            Minha filha Larissa, que reside e estuda na Austrália, vibrou com a decisão do STF, após os réus do mensaleiro tentarem por oito anos transformar a operação criminosa em “crime político”. Ela, frequentemente, nos assevera: “Aqui na Austrália tudo funciona. Hospital público, transporte público... Aqui, tudo que é público, incluindo dinheiro, tem de ser respeitado. Ah, que pena, o meu Brasil não ser assim”.
            Sinceramente, nada mais amador e sem graça às cenas de pastelão protagonizadas por José Dirceu e José Genuíno, com um dos punhos cerrado e dizendo-se indignados com a Justiça brasileira. Nesse gesto, a expressão “piada de salão”, ironizada por Delúbio Soares (em alusão à sua peça acusatória), cai como uma luva.
            Como não tenho mais muito espaço, apenas apelar para que o nosso povo vote consciente para não pôr no poder novos delinquentes usurpadores da ética, do erário e da dignidade da nação.
           
                                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                           lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                            Advogado e Administrador de Empresas

Nenhum comentário:

Postar um comentário