segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Vou deixar de ser burro

                        
            Foi vendido a ideia de que o caminho da felicidade passa pelo consumo, pela aquisição da roupa de grife, do carro do ano, do último modelo celular ou do eletrodoméstico. É o consumo e o acúmulo de bens sem limite e nunca saciados que impulsionam esse modelo suicida de desenvolvimento.
            Emblema disso é que, hoje, mais da metade da população (54%) tem algum carro. O Brasil privilegiou a indústria automobilística, facilitou a compra de veículos, e a classe média aumentou em tamanho e poder de consumo. Todos acreditaram que chegariam ao paraíso, e terminaram presos no congestionamento.
            Esse ambiente torna-se o cidadão contaminado pela felicidade cosmética. No fundo todos somos um pouco burros: no amor, nas mancadas com os amigos, nas compras por impulso, nos filmes que escolhemos sem ler a crítica, quando nos sentimos espertos e achamos que isso é nossa exclusividade, quando acreditamos em soluções mágicas para emagrecer, combater a calvície, ficar rico etc. Mas pior que burro consciente é um iludido. Chegou a hora de dizer (muito apropriadamente) “vou deixar de ser burro”.
            Meu saudoso sogro, Dr.Aldemaro Campos, foi um homem que sempre enxergava mais além. Sobre tal assunto, frequentemente, ele dizia: “Olha, a desgraça do mundo é a vaidade”.
Essa espécie de cachaça da vaidade está intrinsecamente ligada ao consumo extemporâneo, contaminado por uma fossa de mini shopping, distúrbios de autoimagem e materialismos extravagantes.
            Não é surpresa, quem mais fica engarrafada nas ruas é a classe média, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) – face ao consumo desenfreado pela compra de veículos, mais por desejo do que por  necessidade. Pesquisa revela que os muitos pobres e os muito ricos gastam menos tempo no deslocamento casa-trabalho do que a classe média. Os ricos, porque podem morar perto do trabalho – alguns usam até helicópteros. Os pobres, sem dinheiro paga a passagem, tendem a se restringir a trabalhar bem perto de onde moram ou acordam às 4 horas da manhã para evitar congestionamento.
            Vou um pouco mais longe e digo que da porta para dentro de casa, a classe média melhorou muito de vida. Mas o espaço público não acompanhou a melhoria. A prova disso é o engarrafamento diário de nossas cidades. E para mudar esse cenário pavoroso, só taxando a circulação de carros em áreas mais conflagradas. Não tem escapatória, acreditem!
            Eu poderia me estender numa argumentação apocalíptica sobre esse desafio real. Então, basicamente, é isso: ou o governo muda a sua estratégica da política de consumo ou as grandes cidades brasileiras vão se transformar em bolsão de problemas estruturais.
           

                                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                                 lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                                             Advogado e Administrador de Empresas

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