Boa
parte dos que me leem neste espaço já sabe que sou um apaixonado pela Bossa
Nova. Cuja característica marcante de suas músicas era tocar e cantar baixinho
em tom quase falado. Tornou-se para mim uma espécie ave rara e fascinante.
A época áurea da Bossa Nova foi bem
no início da década de 60. Pois cantar em seu gênero rendia fama e prestígio.
Foi um período muito fértil, onde suas estrelas - como Vinicius de Morais, Tom
Jobim, Ronaldo Bôscoli, João Gilberto, Roberto Menescal, Carlos Lira e tantos
outros - compunham com uma felicidade pra caramba. Livre e sem amarras.
As suas canções falam sobre tudo
aquilo que seus fãs gostariam de ouvir: o amor, a praia, o mar e tudo isso
ficou registrado nos versos de suas belíssimas melodias. A paixão pelas suas
músicas, através de textos inovadores e simples, lhes tornou avesso aos
critérios ideológicos, mesmo que a opinião da crítica fosse diferente das suas.
Muita gente diz que a Bossa Nova não
teve influência do jazz, mas, segundo Roberto Menescal, teve sim. E mais do que
isso, era a maior influência de estilo da sua turma: o copo de uísque em sua
mão, o cigarro na outra, a gravata meio frouxa. Fazendo tudo o que der na telha
para nosso deleito, admiração e inveja.
Ele confessa ainda que, em 1960,
essa melodia inovadora começou a sair do Brasil e influenciar o jazz, tanto que
quando chegaram aos Estados Unidos pela primeira vez, em 1962, todos os músicos
bons de jazz tocavam - ou tentavam tocar – Bossa Nova. E de repente, os idealizadores
desse movimento musical estavam lá, vendo toda essa turma, de quem eram grandes
fãs, gravando as suas canções. Incrível, não?
Outro dia, bem de manhãzinha, cruzei
aqui na praia de Tambaú com um boêmio das antigas cantarolando “O barquinho vai
/ E a tardinha cai... Dia de luz, festa
de sol”. Aí sentei e matutei um tempão. Parecia o “Pensador de Rondin”. Senti
que ele tinha algo a dizer. Eu tinha algo a ouvir. Mesmo distanciando não
deixei de lhe olhar, lhe olhar e lhe olhar.
Fiquei,
sim, emocionado. Foi nesse momento que a ficha caiu para renovar a minha
prazerosa sensação mental por um estilo que até hoje é cultuado e influencia
artistas da música. Fenômeno “hors-concours” por ser muito peculiar, pela
simplicidade e pelo carisma de sua sonoridade.
Pensemos: quem diria que aquela
música feita sem a mínima pretensão e sem achar que seria algo duradouro,
saísse definitivamente da timidez do apartamento da Nara para ganhar o mundo.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Mestre em Administração
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