Depois de um dia estafante de
trabalho, chego em casa estressado, exaurido, amarrotado, moído, descabelado e
monossilábico, sem outro desejo senão ligar a TV e assistir os noticiários
jornalísticos, como forma de esvaziar a cabeça. Isso antes. Agora, depois que
ganhei de presente dum fraterno amigo a minha carinhosa Baby (poodle, hoje com
dois anos), tornou-se diferente às minhas queixas da vida moderna. Traduzindo,
assim, tão bem a máxima “Viver é arte do encontro”, sentenciada por Vinicius de
Morais.
Tenho certeza que Baby é um cão com
alma humana. Tem sentidos apuradíssimos. Juntos, desenvolvemos uma profunda
afeição um pelo outro, como também um sentimento de extrema confiança,
conhecido exemplarmente como fidelidade canina. Nossa! Ainda teimam, segundo a
teoria, que o parente mais próximo do homem é o chimpanzé. Não, mil vezes não!
Na verdade o mais próximo é o cachorro.
Eu me lembro do dia em que adentrei
no apartamento de um hotel, como bebê ela se fosse, sem que ninguém apercebesse.
Toda enrolada num lençol, com aquele cuidado especial tão bem ordenado pela
minha consorte. Foi um deus-nos-acuda quando dirigimos à recepção para fazer o
intolerável check-in. De repente ela mexeu uma das patas e seus olhos discretamente
fitaram os meus, e eu pressenti que estava me chamando. Aproximando-a, no mais
perfeito estilo “hollywoodiano”, coloquei a minha mão sutilmente sobre a sua
cabeça, e silenciosa ali permaneceu, como entendesse o instante crucial que ora
aprontávamos – misto de ousadia e esperteza.
É certo que sou um chato patológico
quando alguém usa de grosseria e falta de carinho para com os animais.
Especialmente os cães, que não distinguem se seu dono é um mendigo ou um grande
estadista. Eles são programados para servir e distribuir afeto. Pesquisas de
comportamento mostram que, mais até do que amigos, esses bichos de estimação
são atualmente vistos como filhos ou irmãos em boa parte dos lares que os
acolhem. Além disso, é antídoto para o ser urbano que enfrenta crise de
referências, notadamente os que são escravo da vaidade e da futilidade.
Não sabia?! Já estão treinando e
educando os cachorros para o futuro. Ou seja: estão ensinando cachorro a ir à
restaurante, a supermercado, a cinema. Logo, logo, cachorro estará viajando de
avião. Preferência na primeira classe. Pensando bem, até que não é uma má
ideia. Eles merecem!
Tem mais: reconheço em Baby, com
perdão da transgressão, uma alma compreensiva, sempre disposta a oferecer o
ombro amigo e ajudar alguém nos momentos difíceis. Pela sua meiguice e
inteligência sinto que há no seu íntimo um grande desejo: nascer humano em sua
próxima encarnação.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
lincoln.consultoria@hotmail.com
Advogado e Mestre em Administração
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