domingo, 11 de agosto de 2013

Cultura do atraso



       Não é só um pensamento. É a realidade. O Brasil econômico está mudando, as classes sociais já não são mais as mesmas e os grandes eixos regionais de mercado são outros. Porém, os projetos malfeitos, licitações irreais, liminares, corrupções, burocracia e má gestão pública têm contribuído para o entrave do nosso desenvolvimento.
            Ouvi e li opiniões segundo as quais se trata de um fenômeno, ironicamente chamado jabuticaba, que só existe no Brasil. O rumo pode está certo, mas problemas persistem. A qualidade da nossa infraestrutura está em 107º lugar no ranking elaborado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF) com 144 países. Quando se isola a infraestrutura de transporte, caímos para a 134º posição.
            Já nossas ferrovias: 100ª colocação no ranking do WEF. Enquanto os Estados Unidos transportam por ferrovia 43% da carga nacional, O Brasil opera na casa dos 26%, com um detalhe: dois terços do volume são de minério de ferro. Para o resto da economia, os trilhos representam apenas 10% do movimento.
            Quanto às rodovias (valha-me Deus!) situamos na 123º lugar na classificação do WEF. O estado de conservação da maior parte da malha rodoviária nacional produz um aumento médio de 28% do custo operacional dos caminhões, alta de até 5% no consumo de combustível e queda da velocidade operacional. Não é também diferente no nosso transporte aéreo onde ficamos na 134ª colocação, abaixo da Nigéria. E nossos portos, em 135º lugar.
            Dramático, não? Estamos em alerta vermelho. Só não vê quem não quer. Mas as autoridades do governo, como o ministro Aldo Rebelo, no seu tom fransciscano, diz que “o atraso é um de nossos problemas civilizatórios, faz parte de nossa cultura. Até reunião ministerial atrasa no Brasil”. Isto é: tipo de justificativa que é uma vergonha! Uma desfaçatez!
            Ademais, vive-se ainda no Brasil uma cultura do curto prazo. Obra boa é aquela que fica pronta a tempo de ser inaugurada em ano eleitoral. Essa pressa para começar a obra, paradoxalmente, é um grande fator de atraso. Sem estudos técnicos de qualidade, o construtor acaba encontrando imprevistos na execução. Quando isso acontece, é preciso revisar prazos e orçamentos. As obras, por sua vez, ficam mais caras e mais demoradas. É o caso escrachado da transposição do rio São Francisco – não transpôs água, mas apenas verba.
            Perda de tempo gastar toneladas de papel e litros de saliva para tentar explicar o atraso sistemático de obras no Brasil predominado pela “cultura do atraso”. Isso acarreta barulho, sinuca de bico e dor de cabeça. Com agravante: nossos gestores públicos têm exato conhecimento dessa mazela, mas não adianta ir à igreja e fazer tudo errado.
            É imperioso acabar com a “cultura do atraso”. É preciso ser hoje. Não dá para deixar para amanhã.

                                                                  LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                  lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                    Advogado e Mestre em Administração

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