segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O julgamento do mensalão

       Não há como ficar indiferente ao julgamento do mensalão. A não ser que você (leitor) estivesse em total isolamento, num mosteiro tibetano (talvez nem lá), ou em coma (talvez nem assim).          Nos momentos que assisti a tal julgamento, referindo-me aqui a denúncia do Ministério Público, as engrenagens do sistema de falcatruas foram expostas, a sua lógica real se revelou, a tampa do bueiro se abriu e deixou escapar os gases fétidos do esgoto.
            A imprensa, por sua vez, deve continuar vigilante e representando muito bem o seu papel de informar, fiscalizar e denunciar falcatruas. Por seu lampejo, engoli cada letra da reportagem sobre o escândalo do mensalão, evidentemente o que foi publicado e que eu li, com uma fome voraz e segui as curvas dessa história com a mesma intensidade de uma corrida de F1.
            Em bom português, é lamentável que depois de cinco anos de investigações, não há uma prova contundente de que incrimine os 38 réus nesse processo penal. Psiu! Como Pode? Confessadamente, o próprio procurador-geral da República, Roberto Gurgel, reconhece de que não existem perícias, documentos, registros telefônicos ou eletrônicos que prove a participação dos agentes delituosos, e sim, a prova testemunhal – totalmente risíveis, segundo a defesa.
            Porventura não seja exagerado dizer: vai ser preciso um baita esforço dos ministros do STF para fundamentar o voto certeiro da condenação, caso haja. Como diz um velho amigo e advogado: “Tá ruço, mano!”. Concordo que a prova testemunhal é a mais frágil das provas. Isso porque ela pode facilmente se mostrar desconexa e vulnerável. Não vou usar eufemismo, só com esse tipo de prova, dificilmente alguém é condenado por corrupção. Pelo artigo 317 (corrupção) do Código Penal, exige-se prova da solicitação ou do recebimento do valor de origem ilícita, pelo menos.
            Não sei, não, caro leitor, mas meu medo é que no final essa gente livre-se das acusações.  Como no plano subjacente daquela música “Dois pra lá, dois pra cá”. Pois, ao contrário sabor dos arroubos de bom-mocismo, essa trupe (figuras carimbadas) é apontada como erva daninha que corrói valores, agride o bom-senso, nega a democracia, desestimula o mérito e ignora a ética. Pior é que esse escândalo nada tem de novo: é apenas um desdobramento tardio do outro. Seria cômodo e desonesto ignorar essa situação.
            E, mais uma vez, recorro poetíssimo Carlos Drummond: E agora, José!


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
lincoln.consultoria@hotmail.com
Advogado e Administrador de Empresas

Nenhum comentário:

Postar um comentário