segunda-feira, 2 de julho de 2012

Estrangeirismo dos empreendimentos

       Já virou paisagem comum em João Pessoa observar edifícios com denominação em palavras estrangeiras, numa proliferação desmedida de “gardens”, “maisons”, “châteaux”, “parks”, “places”, e por aí vai.
            Nota-se que o fenômeno do estrangeirismo tem sido mais empregado nos últimos anos, não só aqui na terrinha como no resto do País. Dizem que é uma questão de moda, que tem a ver com hábitos culturais em um determinado momento.
            E como costumo me meter em coisas para os quais não fui chamado, vou dar minha opinião. Numa percepção mercadológica, não vejo como uma aura mágica em torno desse tipo de produto que estimula o lado emocional do público, no caso o cliente comprador.
            Em seus lançamentos, os nossos incorporadores pessoenses inauguram projetos com designações pomposas, a exemplo do “Busch Garden”, “Shekinah”, “Desiree”, “Rubayat”, “Saint Germain”, “Amarcod”, “Hannover”, “Athicus”, “Pegasus”...  Chega!  Acreditem, às vezes, fico naquela sensação mais jeca a cada lançamento. Para os incorporadores, puro estilo. Para os críticos, deslumbramento inócuo.
            Outro dia peguei um táxi no aeroporto de Brasília, onde fui me encontrar com a minha consorte, como de praxe, olhei para o motorista e lhe informei o local de destino:
            -Life Resort... Lago Norte!
        Silêncio. Antes de dar partida no veículo, o taxista olhou em volta e perguntou:
            -Doutor, desculpe-me, não entendi o nome do citado endereço.
            Pensei comigo mesmo: Ora bolas, como pode um empreendimento de porte considerável, inaugurado há mais de cinco anos, ainda ser desconhecido por um profissional do ramo? Mas a explicação está no danado do nome. Um retrato de um charme falacioso e inútil.
            Contudo, na Terra Brasilis, alguns construtores acham que vivem em Miami. Acham que talvez isso torne os seus prédios mais atraentes. Sinceramente, não dá! Prefiro homenagem das coisas e personagens vinculados ao Brasil. Ou seja: o problema é que em vez de voltarem para aquilo que é nosso, fazem justamente o contrário.
            Aos desavisados, é bom lembrar a manifestação do folclorista potiguar Câmara Cascudo: “O melhor produto do Brasil ainda é o brasileiro”. Essa, sim, é a grande sacada.


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas

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