segunda-feira, 23 de julho de 2012

Nova versão de Gabriela

       A novela Gabriela exibida em 1975 permanece na minha memória angelical, não só pela personagem central, interpretada por Sônia Braga, mas por todo o seu elenco que, magistralmente, mostrou a hipocrisia da sociedade local de Ilhéus e a virulência dos coronéis.
            Nessa nova versão - aliás, estou assistindo a duras pena, em razão do horário (às 23:15h.)  - já desencadeou uma chuva de ironias e de críticas. Como diz Roberto Schwarz, prestigioso marxista: “Ideias fora do lugar”. Realmente, o remake, não tem o mérito da primeira versão, onde a coloquialidade e a simplicidade eram a pedra de toque para narrar uma trama à altura do romance “Gabriela Cravo e Canela”, do escritor Jorge Amado.
            Com fraseado mais afiado, dizem ainda que o elenco atual de artistas seja bem menos competente que o primeiro, e que foi dada apenas uma ênfase na questão visual em detrimento da dramaturgia e da boa literatura. Resultando, assim, em algo bonito, mas raso.
            Não dá. As melhorias foram cosméticas, providenciada pela tecnologia. Até o momento, nenhum ator em especial chamou a atenção. Juliana Paes sorriu em todas as suas cenas, inclusive nas mais tristes. Quanto à interpretação de Ivete Sangalo, sem comentários para não ser indelicado.
            Um segredinho, aqui entre nós: à época, estudante universitário, era um aperreação para que terminasse logo a última aula e saíssemos correndo feito louco para assistir a danada de tal telenovela. É bom esclarecer que não eram apenas os alunos, mas todos os docentes indistintamente. Isso tudo para ver a sedutora Gabriela e a trupe do cabaré chamado Bataclan.
            Dando vazão o seu humor irônico, um colega gozador não poupava tirar sarro dessa situação:
            -Professor, vamos, vamos...  porque preciso cravar os olhos na morena Gabriela. Pena que é muita areia pro meu caminhãozinho(ufa!).
            Note-se, de resto, que falta testosterona aos machos da nova versão de Gabriela, aquela malícia, aquele xaveco do velho e safado escriba baiano. Não se admire, está tudo lá no livro de 1958, mas que lamentavelmente não chegou à nova Ilhéus televisiva.
            Atrevo-me asseverar: acho que refazer o “Bem Amado” seria a melhor opção em vez de “Gabriela”, diante dos escândalos protagonizados por Cachoeiras, Demóstenes e outros ban ban bans da falcatrua , servindo-se como mote para mostrar a realidade brasileira no momento.


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas

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