terça-feira, 26 de junho de 2012

Centenário do Velho Lua

       Fiquei maravilhado com a bela e merecida homenagem prestada ao centenário do grande Luiz Gonzaga, através de um Programa Especial de televisão. Sem dúvida: um dos músicos mais reverenciados do Brasil que cantou o povo nordestino como ninguém.
            Seria preciso morar em Marte para desconhecer o valor do Velho Lua ou Rei do Baião – são alguns títulos dados ao filho de Januário pernambucano de Exu. Escreveu melodias gostosas de cantar e letras bem narrativas, que às vezes parecem textos com personagens. Com a sua sabedoria iluminada conseguiu desmistificar tabus, preconceitos e clichês.
            Isso é “vero”. Tinha incrível senso de humor e sensibilidade para a música. Suas canções eram entoadas como verdadeiros hinos ou orações. Simples como somente os sábios conseguem ser, conhecedor profundo da alma humana nordestina, cuja dor começa naquilo que lhe é negado pela lágrima dos céus: a chuva.
            Ao longo de sua carreira artística ele compôs belíssimas canções, sendo “Asa Branca” composta em parceria com Humberto Teixeira, a mais emblemática e que se tornou um Hino do Nordeste. Uma região historicamente vilipendiada do País.
            O repentista Oliveira de Panela certa vez escreveu: “Foi voando nas asas da Asa Branca/ Que Gonzaga escreveu sua história”. Essa composição tem mais de 50 anos de existência, mas por causa de sua atualidade até hoje se encontra presente no imaginário do povo brasileiro. Ela simboliza paz, saudade e exílio. Como também, fala da seca, das tristes condições da vida do sertanejo. A melodia de “Asa Branca” chegou a conquistar os artistas estrangeiros. Mas nenhuma interpretação bate a do Velho Lua, que a continuou cantando (voz anasalada e canto chorado) até sua morte em l989.
            Nesse programa em homenagem ao Gonzagão, que no início me reportei, destaco a apresentação ofuscante e imorredoura do humorista João Cláudio Moreno (conhecido por imitá-lo com perfeição a voz e os trejeitos) ao cantar, num trecho declamado, a música “Apologia ao Jumento”: “Animal sagrado... jumento meu irmão eu reconheço teu valor... tu és um patriota, tu és um grande brasileiro... eu to aqui jumento, pra reconhecer o teu valor meu irmão...”. Ah, que bonito! Mormente, agora, que esse animal está sendo renegado e substituído pelas motos.
            À futura geração: espero que a arte musical do forró pé-de-serra, deixada pelo nosso mestre Luiz Gonzaga, não seja esquecida, não seja apenas um verbete no dicionário.


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Adm.Empresas

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