terça-feira, 5 de junho de 2012

A Vespa dos meus sonhos

            Foi mais ou menos nesta época de “olha que broto legal, garota fenomenal” que surgiu no Brasil a Vespa, e logo fez sua fama. Uma de suas maiores rivais, a Lambreta, também veio e conquistou também espaço que, ironicamente, passou a ser sinônimo para esse tipo de veículo. Ou seja, no Brasil, a Vespa recebia ainda a alcunha de “lambreta”.
            A Vespa era a motoneta lendária que melhor definiu um meio de transporte leve, barato e charmoso. Ficou inscrita na imaginação do público quando Gregory Peck e Andrey Hepbum montaram a sua e passaram pelas ruas de Roma no clássico “A Princesa e o Plebeu”, de 1953. Ademais, era fácil se deixar inebriar pela sua beleza estética e como pela sua praticidade.
.Quando estive na Itália, em Nápolis, fiquei impressionado com a quantidade de Vespas zoando pelas ruas. Em dado momento, permaneci sozinho no intervalo do almoço, sentado no banco da praça, bem afastado das pessoas de nosso grupo de viagem, fechei os olhos e me veio em mente à lembrança da minha adolescência em Cajazeiras, onde só existia uma única Vespa circulando na cidade.
O Cara que a possuía tornou-se queridinho das garotas. Fazia questão de ser o tal. Destacava-se pelos seus cabelos cumpridos e pouco descuidados, usava calça Lee e óculos Ray Ban, moda à la ator-motociclista Peter Fonda. Afora outros elementos psicodélicos de uma geração (década de 60) que ele gostava de estilizar.
Com essa arejada nostalgia, longe agora do cotidiano das cordas bambas, montanhas-russas, dramaticidades e dores existenciais na vida de um ser humano, permaneci ali sentado no banco da praça, por um bom tempo, observando todas aquelas Vespas no vai-e-vem do trânsito frenético napolitano, através do olhar que a literatura mística chama de “terceiro olho”. O único olho que não é visto, mas justamente o que ver tudo.
Nossa! Desmanchei-me de emoção. Optei pelo o “nó” na garganta às lágrimas. Divaguei por um instante, como alguém batesse no meu obro e falasse: “Fique com ela (Vespa)... é toda sua!!!”.
Ao contrário do que escreveu Fernando Pessoa, quero, sim, gozar a vida que me resta. Quero torná-la sempre melhor e fazer aquilo que gostaria ter feito e não fiz, como, por exemplo, andar numa bela Vespa dos meus sonhos.


                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                    lincoln.consultoria@hotmail.com   
                                    Advogado e Administrador de Empresas

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