terça-feira, 12 de junho de 2012

Rodízio de pizzas

       Assisti o depoimento de Demóstenes na CPI e o comparei como o jogador de pôquer, que blefa e não treme, que blefa rindo, e cujos olhos indecifráveis intimidam o adversário. E joga tudo. E vence. No blefe.
            Nesse curta-metragem, categoria pastelão, chego a conclusão que o Brasil “maduro” paga propina ao Brasil arcaico para poder existir. Atropela a lei, manda as favas, os bons costumes, a educação e a civilidade. Nelson Rodrigues ficaria jururu, justamente agora que o complexo de vira-lata do brasileiro toma conta (cada vez mais) desse cenário.
            Cena que nos causa vergonha e desalento. E daí? Daí não será necessário, aqui, descrever com pormenores o esquema montado por Cavendish e Cachoeira – tarefa cumprida por uma mídia que vai lucrar horrores com mais uma exposição das vísceras do cadáver eternamente putrefato daquilo que se convenciona chamar democracia brasileira – tendo como pano de fundo o envolvimento de parlamentares, governadores, ministros, empresários e figuras emblemáticas de partido político.
            A ética pública está impaciente. Lembro-me, neste momento, em seu inspirado discurso de posse na presidência do STF, diz Carlos Ayres Britto: “A silhueta da verdade só se assenta em vestidos transparentes”. Ou melhor, a verdade é como um gênio da garrafa: uma vez liberada, ganha poderes mágicos. Em razão de sua falta (verdade), a referida CPI está vagando na escuridão, tropeçando. Vísceras expostas, o espetáculo midiático se encarrega de criar a sensação de que “desta vez” a justiça será feita, e que a democracia sairá fortalecida.
            Olhando no espelho retrovisor da história recente, sabe-se que essa prática vil, a não ser que minha bola de cristal esteja com defeito, não vai parar de ocorrer, desde que sejam aplicadas penalidades severas contra tais agentes irresponsáveis que sempre mandaram para o quinto dos infernos regras básicas da ética e da moralidade.
            A CPI, no caso de Cachoeira, Demóstenes e Cia, com tantas notícias e relacionamentos, terá um “rodízio de pizzas” para todos os gostos. Pergunto: Dá para construir um país sério com esta matéria-prima? Não. Pois bem, o tempo urge por providências, e não adiante apelar para reza forte, nem macumba com mil velas.
            A sociedade brasileira não suporta mais esse tipo de avacalhação. Corruptos e corruptores têm de ser julgados e condenados. Juízes, ação!


                                                     LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                     lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                        Advogado e Administrador de Empresas

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