segunda-feira, 26 de março de 2012

Vídeo-bandido

       Outro dia, um amigo me disse que levaria para o túmulo uma chaga impossível de solução: a corrupção no Brasil. Olha, depois que assisti o esquema de falcatruas denunciado pelo “Fantástico” (domingo, 18 de março) penso que tal amigo estava certo no seu verossímil libelo. Espero que tenha provocado abalos (no mínimo) no bunker da presidenta.
            Através do vídeo-bandido, com a ajuda da direção do hospital da UFRJ, um repórter do programa se passou por gestor de compras da instituição durante dois meses e simulou uma chamada de licitação em regime emergencial. Para vencer o certame, representantes das empresas ofereceram pagamento de propina.
            É o tipo de qualquer negócio, a qualquer preço, com qualquer parceiro, mas sempre em
prejuízo do erário público. Fiquei decepcionado e indignado ao ver a blasfêmia e a disparatada afirmação que esse imenso balaio de ações criminosas, de proporções amazônicas, era praticado dentro das regras da “ética de mercado”. Que mercado é esse, o da corrupção? Convenhamos, há limite para tudo.
            A transação parecia uma obra-prima de engenharia em falcatruas, um verdadeiro cardápio de negociatas. Num desses trocadilhos bem ao gosto e estilo, em tom irônico, um dos representantes diz: “O senhor acha pouco?”. Surfando ainda nesse maremoto de trapaçaria, sem titubear ele completa: “Não há problema, eu te dou o preço e você acrescenta o valor (propina) que achar conveniente”. Aí é que está o grave, o patético, o inconcebível.
            Até onde minha vista alcança, não há meio-termo: são autênticos vampiros da vida real ou, se preferir, predadores sociais. São mentirosos contumazes, mentem com competência (de forma fria e calculista), sempre com pausas teatrais, conversam no compasso manso de quem conhece todas as estratégias de maracutaia. O curioso disso tudo é que o agente corruptor passa a noção que seu crime é como se fosse um pecado venial de coroinha.
            Bem me lembro na letra de Vai Passar, gravada em 1983, Chico Buarque fala de um tempo em que “dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações”. Examinado com lupa, é uma vergonha termos que passar novamente por esse martírio. Pois: “Pior que a corrupção é a corrupção impune”.
            Assim, revoltado, manifestou um irreverente articulista, Ministra Eliana Calmon, a nação brasileira lhe agradece, neste sufocante calor, pela feliz e corajosa ideia de ligar o ventilador.


                                                         LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                         lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                          Advogado e Administrador de Empresas

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