segunda-feira, 5 de março de 2012

A democratização do Judiciário

            Um amigo meu tem uma tradução livre do pensamento de Montesquieu. Diz que não se constrói uma sociedade baseada na virtude dos homens, mas na solidez das instituições.
            A razão é óbvia. Por isso há uma preocupação tamanha para solucionar a raiz dos problemas do judiciário que, segundo análise do próprio presidente da Associação Juízes para a Democracia, Juiz José Henrique Rodrigues Torres, deve-se a sua estrutura que é verticalizada, hierarquizada, centralizada e pouco democrática.
            É um acinte à inteligência de qualquer um, ante o potencial de nitroglicerina das denúncias da corregedora Eliana Calmon, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), achar que o imbróglio do Judiciário recaia apenas sobre esses pontos ora evidenciados. À vista disso, ela trouxe à cena da discussão o grave problema do corporativismo, baseada numa relação simbiótica esdrúxula, o que, não raro, associa-se à impunidade.
            Com todo respeito, a sensação é de que o Judiciário anda tropeçando nas próprias pernas. Ou melhor, num inevitável corporativismo. Por outro vértice, que se pretende do CNJ um debate plural e amadurecido da entidade, longe de viés heróico e quixotesco, jamais com o propósito de desestabilizar, ridicularizar ou enfraquecer o Judiciário.
            Uma coisa é clara: o Brasil exige de suas autoridades competência, gestão eficaz e o combate diuturno à corrupção, a começar pelo fim da impunidade que - diga-se - uma mania ou uma patologia nacional. Essa é a argamassa que lhe dará coesão.
Devo ter um parafuso a menor, pelo fato de que não consigo entender a falta do processo democrático na composição STF. Uma vez que os ministros desse tribunal são nomeados exclusivamente pelo presidente da República. É verdade que há uma sabatina no Senado, mas observamos que é praticamente homologatório.
Também não é muito diferente a eleição das cúpulas dos tribunais estaduais e regionais. São três desembargadores que comanda o tribunal de justiça: presidente, vice-presidente e corregedor. Eles são eleitos pelos seus pares (desembargadores), sem apresentar nenhum projeto de gestão profissional e transparente.  Os juízes e os funcionários não votam, não participam desse processo. Logo, não é algo democrático.  Quem sabe aí esteja um dos grandes problemas que o Judiciário tem que enfrentar, inclusive para que haja uma transformação interna do órgão.
Sei lá! Com espírito jocoso, talvez seja o caso de observar que já não se exercitem o mister da Justiça como antigamente.

                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                          lincoln.consultoria@hotmail.com
                                           Advogado e Administrador de Empresas

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