sábado, 7 de maio de 2011

Assalariado!

            Sei que não adianta dizer o óbvio: não se trata mais de provar que a economia brasileira é sustentável e exequível. Isso já foi superado. O problema principal (ou o maior “nó”) é a distribuição de renda, pra valer, não por meio de paliativos como o Bolsa Família, que serve como analgésico para manter viva a esperança de dias melhores.
            Concordo “in totum” que o nosso país é paupérrimo de ideias criativas em políticas públicas, e a virada só ocorrerá se o governo estabelecer metas de geração de postos de trabalho formais. Ao mesmo tempo, para dar força ao mercado interno e garantir o consumo, o salário mínimo e os benefícios da Previdência Social devem aumentar, consequentemente, distribuindo renda.
            Outro dia vi uma roda de malandros, bajuladores e certos políticos no maior papo, cujo cerne da discussão era de que o nosso brioso país tinha avançado (extraordinariamente) no combate às desigualdades sociais. É irônico que tal discussão de desinteligência explícita ainda ocorra de maneira quixotesca, sobre um assunto já saturado de clichês.
            Até o cômico Mução, no seu programa de “fuleragem”, ridiculariza as pessoas que vivem de um salário mínimo, chamando-as em tom jocoso de “Assalariados!”. O resultado desse xingamento provoca uma série de impropérios por parte do troteado. Ou seja: pólvora suficiente para fazer explodir às suas vítimas. Emparedados, acabam sendo fuzilados em circunstâncias de folhetim afrontoso.
            Pelo que já li e me disseram, o crescente estado de miséria, as disparidades sociais e a extrema concentração de renda, decorrente dos salários baixos, o desemprego, a fome que ainda atinge milhões de brasileiros, a desnutrição, a mortalidade infantil, a marginalidade, a violência, etc, são expressões do grau a que chegaram as desigualdades sociais no Brasil. Aí está a razão para que alguém não goste de ser chamado de “Assalariado!”.
            Por outro lado, os gestores públicos, num blá-blá-blá interminável, irritante, enfadonho e inconsequente, não conseguem resolver ou atenuar com firmeza as desigualdades sociais, onde os custos que a maioria da população tem de pagar são muito altos. Com isso a concentração da renda tornou-se extremamente perceptível, bastando apenas conversar com as pessoas nas ruas para constatá-la.
            Apesar disso, renovo a minha crença na democracia, na liberdade, no exercício legítimo das forças do mercado, na atuação de um Estado ativo e cumpridor de suas ações sociais.
            Tenho, sim, um olhar de desprezo com a “elite intelectual de esquerda” sobre esse debate. Preocupada, como disse um arguto articulista, só em lavar roupa suja em casa, se é que tem roupa suja, pois já está pelada no meio da rua, exibindo a sua crise.



                                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                               lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                Advogado e Administrador de Empresas

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