domingo, 1 de maio de 2011

A arte da soberba

            Semana passada, relatei aqui a querela judicial envolvendo um juiz e o empregado/condomínio pelo simples fato de não lhe ter sido dispensado o tratamento de   “doutor”. Como se viu uma novelinha rápida. Tão rápida quanto absurda. Espero, pelo menos,  num momento de fé, esse magistrado tenha resolvido dar uma limpada no seu orgulho.
            Sempre digo: que a leitura com livros é sempre prazerosa, com os computadores é um comprazer menos envolvente. Acessou, leu, gozou e desligou. Como afirma um amigo debochado: parece sexo sem amor. Por isso, estou sempre visitando livrarias, seja por aqui, ou quando estou viajando.
            E não é que, na última visita recente a um desses estabelecimentos, comprei o livro “Os novos pecados capitais”, de João Baptista Herkenhoff, coincidentemente, um juiz aposentado, cuja obra tem como destaque um texto cristalino, despojado, que produz, como que por acúmulo, um forte efeito de contemporaneidade. Que, por sua vez, caiu como uma luva, uma pintura, na discussão sobre a soberba que foi vítima o pobre coitado do empregado.
            A soberba, proclama o referido escritor, leva o ser humano a desprezar o próximo e a considerar-se superior aos demais. O soberbo atribui a si todos os méritos, e sua alma é alimentada por um contínuo sentimento de grandeza. A soberba tem relação direta com a ambição desmedida, seja pelo poder, seja pelo dinheiro.
            Para Santo Tomás de Aquino, mais do que apenas um pecado capital, a soberba é a raiz e a rainha de todos os pecados. Geralmente é considerada como mãe de todos os vícios e, em dependência dela, se situam os setes vícios capitais, dentre os quais a vaidade é o que lhe é mais próximo.
            É isto mesmo, para quem se envolve com esse tipo de coisa, não há como se safar!  Não é demais lembrar, entretanto, que o orgulho é sempre o complemento da ignorância. Outro dia ouvi uma frase que é verdade à beça: “O homem modesto tem tudo a ganhar, o orgulhoso, tudo a perder, porque a modéstia encontra sempre pela frente a generosidade, e o orgulho, a inveja”.
            Para que, então, o soberbo procura nas prateleiras da livraria os manuais de auto-ajuda, os quais vendem feito picolé na praia? Para ser mais feliz, para ter sucesso, para pensar positivo, para conquistar um amor, para ter mais qualidade de vida. Eu só me pergunto uma coisa: adianta?
            Ah, uma última pausa para reflexão: toda pessoa neste mundo é importante, e a consciência desta verdade ensina que a arrogância é a máscara mais banal da covardia e da presunção.


                                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                            Lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                               Advogado e Administrador de Empresas

Nenhum comentário:

Postar um comentário