segunda-feira, 23 de maio de 2011

Doações de Campanha


            Num olhar rápido, dei de cara com o relato das eleições de 2010, onde o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) confirmou, o que já era esperado, que empreiteiras e bancos continuam sendo os grandes financiadores de candidato.
            Como o dinheiro das empresas entra no caixa único do partido ou comitê, não é possível saber para qual campanha foi direcionado. E aí que viceja o vale-tudo. E quando isso ocorre, a “corruptocracia” fica em festa. Pois, a empresa que mais doou no último processo eleitoral foi a Comarca Corrêa (R$ 103 milhões), entrando ainda na lista o Banco Alvorada, Bradesco, o frigorífico JBS/Friboi, OAS, Andrade Gutierrez, Gerdau e outras organizações “generosas”.
            Tais doações são verdadeiras fontes de corrupção, uma vez que o político que recebe doações de empresa ao ser eleito fica obrigado a beneficiá-lo de alguma forma. Como já escrevi aqui, repito agora, se houvesse neste país respeito à milenar instituição “vergonha na cara”, os políticos teriam mais cautela e medo antes de se envolver nessas “conversas subterrâneas”.
            Entristece-nos, porém, constatar que a frequência desses episódios anestesia a capacidade de indignação de muitos. Por mais brincadeiras e malabarismos que se inventem, quase todos os partidos compactuem com o desvio antirrepublicano. Levando-se a confundirem na caldeira de promiscuidade público-privado em que é apurado o caldo da corrupção.
            No mínimo, no mínimo, a doutrina dessas doações é indecente, é impura, é desonesta. Uma autêntica fachada para legitimar práticas políticas paroquiais e viciadas. Praticantes da brasileiríssima “Lei do Gerson”.
            É preciso agir. Não dá mais para repaginar ou colocar curativos. Não à toa, diriam alguns (ou melhor: diriam todos) que doação pública é sinônima de corrupção e enriquecimento fácil. Por isso que o escritor Antônio Batista considera a corrupção, em tese, o “quinto poder”. O problema chega a ser social, por estar, segundo ele, institucionalizado em todos os países e povos. Só no Brasil, a corrupção custa US$ 3,5 bilhões por ano.
            Tratando-se de tipicidade (gênese) da política brasileira, o financiamento público, conforme prevê a reforma política (lenta, quase morrendo) ainda em discussão, não acaba com a pecha dessa modalidade de corrupção, simplesmente porque a prática do “caixa dois” e os financiamentos particulares (ilícito) continuarão existindo.
            Sem nenhuma pretensão e com muita convicção, esse estado de coisa só resolverá (quiçá atenuar) a partir do momento em que não deixarmos perder a capacidade de se indignar. E não existirá outro caminho possível ou atalho provável que não seja o da ÉTICA.


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas

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