quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Vergonha nacional

Um amigo meu tem uma tradução livre do pensamento de Montesquieu. Diz que a pessoa não se detém por ser honesto, mas por ter medo.
            Diante do mensalão, malas, cuecas, cafetinas, caseiro, quadrilhas, traições, sanguessugas, xeque mate, cartões corporativos e agora mais um Boletim de Ocorrência chamado de rachadinhas; nem por este sentimento (de medo) a classe política consegue deter-se moralmente.
            Essa mesma população, que volta e meia acusa todos os parlamentares de corruptos e safados, entre outros adjetivos mais chulos, mas logo depois muda de canal e esquece.
            Tristeza, vergonha, revolta e frustração. E não é só. Dizia Aparecido Torelly – o Barão de
Itararé que “o homem que se vende recebe sempre mais do que vale”.
            Insensível às críticas e insaciável, a classe política não se contenta com os milhares de órgãos públicos que já manipula. Busca, desenfreadamente, a criação de mais municípios, com vista à ampliação (as bases) de seu poder e maiores possibilidades de novos “negócios” capazes de aumentar o patrimônio.
            Para se safar, praticam o mais desabrido compadrio, proclamando a meritocracia e as
virtudes de impessoalidade; são boçais e adoram arrotar honestidade.
            O absurdo quiproquó das CPIs, entre sacos e pontapés, alguns abaixo da linha de cintura, pode até parecer teatro épico. Mas é a velha conhecida chanchada brasileira, onde a “balcanização” dos acordos é o epicentro. Cabendo a oposição, por sua vez, a espetacularizar e a novelizar o escândalo.
            A teatralidade dos políticos na mídia, principalmente na televisão, é soberba e ao mesmo tempo cosmética. Rolando ali todo tipo de jogo, truque, ilusionismo verbal e a arte da metalinguagem política, com vista a provocar
rosnados e latidos éticos.
            Devemos, sim, exercer o nosso espírito crítico em relação aos políticos, medindo suas mentiras, aferindo o que propõem de consistente, para substituir o marketing pelo debate, para que a vida moral e a do poder sigam em convergência aos anseios da população.
            No Brasil, porém, circunstâncias e casuísmo costumam prevalecer sobre a construção da democracia. Daí minha teoria de que é problema de DNA histórico da cultura política. Com ressalva para poucas figuras notáveis de nossa representação.
            Bom... Meio inusitado continuarmos com aquele nossa velha mania de que os desonestos são uns coitadinhos e os honestos uns chatos, bobalhões, reacionários, idiotas, conservadores e por aí vai.
            E ainda: é uma vergonha para população saber que a classe política brasileira pode cometer os mais diversos crimes na certeza de que jamais virão a pagar pelos seus atos.
            A Justiça, por sua vez, tem meia culpa por esse estado de coisas. Atentando contra as provas, contra a lógica, contra o bom senso, contra a justiça. Provocando um sentimento de inominável decepção: ué, e ele está solto?
            Todo mundo está “um pote até aqui de mágoa”. Como diz o meu amigo predileto Cordeiro: “
Saltar do penhasco parece mais fácil”.
            Gostei, mas gostei mesmo, foi ter presenciado um diálogo em que o cara vira para outro e fala: “Pô mano! Tu és político? Por que não falou antes!”... hahahaha, caíram na gargalhada.
            É uma pouca-vergonha! 

                                                     LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                   Advogado, administrador e escritor.


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