Um amigo meu tem uma tradução livre do pensamento de Montesquieu. Diz
que a pessoa não se detém por ser honesto, mas por ter medo.
Diante
do mensalão, malas, cuecas, cafetinas, caseiro, quadrilhas, traições,
sanguessugas, xeque mate, cartões corporativos e agora mais um Boletim de
Ocorrência chamado de rachadinhas; nem por este sentimento (de medo) a classe
política consegue deter-se moralmente.
Essa
mesma população, que volta e meia acusa todos os parlamentares de corruptos e
safados, entre outros adjetivos mais chulos, mas logo depois muda de canal
e esquece.
Tristeza,
vergonha, revolta e frustração. E não é só. Dizia Aparecido Torelly – o Barão
de Itararé
que “o homem que se vende recebe sempre mais do que vale”.
Insensível
às críticas e insaciável, a classe política não se contenta com os milhares de
órgãos públicos que já manipula. Busca, desenfreadamente, a criação de mais
municípios, com vista à ampliação (as bases) de seu poder e maiores
possibilidades de novos “negócios” capazes de aumentar o patrimônio.
Para se
safar, praticam o mais desabrido compadrio, proclamando a meritocracia e as virtudes
de impessoalidade; são boçais e adoram arrotar
honestidade.
O
absurdo quiproquó das CPIs, entre sacos e pontapés, alguns abaixo da linha de
cintura, pode até parecer teatro épico. Mas é a velha conhecida chanchada brasileira,
onde a “balcanização” dos acordos é o epicentro. Cabendo a oposição, por sua
vez, a espetacularizar e a novelizar o escândalo.
A
teatralidade dos políticos na mídia, principalmente na televisão, é soberba e
ao mesmo tempo cosmética. Rolando ali todo tipo de jogo, truque, ilusionismo
verbal e a arte da metalinguagem política, com vista a provocar rosnados
e latidos éticos.
Devemos,
sim, exercer o nosso espírito crítico em relação aos políticos, medindo suas
mentiras, aferindo o que propõem de consistente, para substituir o marketing
pelo debate, para que a vida moral e a do poder sigam em convergência aos
anseios da população.
No
Brasil, porém, circunstâncias e casuísmo costumam prevalecer sobre a construção
da democracia. Daí minha teoria de que é problema de DNA histórico da cultura
política. Com ressalva para poucas figuras notáveis de nossa representação.
Bom...
Meio inusitado continuarmos com aquele nossa velha mania de que os desonestos
são uns coitadinhos e os honestos uns chatos, bobalhões, reacionários, idiotas,
conservadores e por aí vai.
E
ainda: é uma vergonha para população saber que a classe política brasileira
pode cometer os mais diversos crimes na certeza de que jamais virão a pagar
pelos seus atos.
A
Justiça, por sua vez, tem meia culpa por esse estado de coisas. Atentando
contra as provas, contra a lógica, contra o bom senso, contra a justiça.
Provocando um sentimento de inominável decepção: ué, e ele está solto?
Todo
mundo está “um pote até aqui de mágoa”. Como diz o meu amigo predileto
Cordeiro: “Saltar do penhasco parece mais
fácil”.
Gostei,
mas gostei mesmo, foi ter presenciado um diálogo em que o cara vira para outro
e fala: “Pô mano! Tu és político? Por que não falou antes!”... hahahaha, caíram
na gargalhada.
É uma
pouca-vergonha!
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado,
administrador e escritor.
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